Talvez você conheça, talvez conviva com alguém dessa natureza,
talvez trabalhe com esse fenômeno ou, pelo menos, já tenha ouvido falar sobre
os exemplares mais pitorescos da espécie. Gosto de apelidá-los de “homo fungo”
e classificá-los distantes dos fungos que não fazem mal e auxiliam a humanidade
na proteção contra pragas, em alimentos, na alimentação ou como decompositores
naturais. Esses fazem mal sim, para os outros ou para eles mesmos.
Querem exemplos? É só correr os olhos, agitar a lembrança ou
puxar pela memória. Vê se não são conhecidos alguns conceitos sobre certas
características marcantes. Temos o “homo fungo” bolor ou mofo, obcecado por
permanecer sempre na mesma, nunca sai do lugar ou tem disposição para mudanças.
Na sua casa, é um “ajuntador” de coisas empoeiradas, quase um colecionador de
trecos inúteis. No trabalho, é mais conhecido como o que não tira o traseiro da
cadeira, nem por decreto, exceção para horário de refeição ou saída.
O bolor está no pensamento, na dificuldade de participação,
na intolerância por trabalho em equipe. É um organismo simples, sem qualquer
tipo de pretensão, pronto a não colaborar com nada, disposto a criticar
qualquer coisa que lhe perturbe o sossego, segue arrastando, ou melhor, sendo
arrastado pela vida.
O “homo fungo” micose, aquele que gruda e coça muito. Você
quer se livrar dele, mas não consegue. É o cidadão pegajoso por natureza,
aquele que elogia se tirar algum proveito, trabalha somente quando está sob
supervisão, tem a característica da mala sem alça, nos relacionamentos
familiares e profissionais. É de sua índole bajular ou puxar sardinha para seu
lado. Exímio galanteador dos superiores e eficaz no autoelogio assume
realizações que jamais foram suas, sem o menor constrangimento.
É aquele que chega pensando em abafar, com piadinhas sem
graças, quer roubar a festa, mas a grande roubada é estar ao seu lado, porque a
coceira começa a incomodar, de tal forma que as pessoas vão se afastando e,
mesmo assim, ainda ficam com aquela sensação de ardência, porque a lembrança
teima em permanecer. É preciso dar um tempo para desanuviar. Esse incômodo não
tem remédio que cure, só a paciência.
Finalmente, apresento o “homo fungo” parasita, especialista
em sugar energia, confiança, alegria. Vive para retirar de terceiros todo
entusiasmo, reduz a pó qualquer tentativa de estar bem, feliz, realizado. No
lar, nada está bom, mas não faz ou realiza coisa alguma, apenas critica os
outros que tentam fazer, mas como um soberano, quer que lhe sirvam o tempo
todo. É aquele que acredita que todos têm deveres e somente ele, direitos.
No ambiente corporativo, faz questão de marcar posição,
normalmente, contrária a qualquer coisa que possa representar o sucesso de
alguém. Argumenta sem conhecimento, poda conversas, quando não tem o que dizer,
inventa algo do tipo “se a coisa estourar quero ver o prejuízo”, às vezes, tão
completamente sem sentido, mas com tanta veemência, que consegue desestabilizar
o proponente. Duro é tê-lo em posição de comando, aí sim o estrago é bem maior.
E agora, conseguiu visualizar a presença de alguns deles?
Tenho certeza que sim! Suas características são inconfundíveis e marcam
presenças onde quer que estejam. Não é preciso um grande esforço para
identificá-los, porém, conviver com essas pragas não é tarefa das mais
agradáveis. É preciso serenidade e capacidade de reação adequada para
espantá-los. Não se trata de eliminação, trata-se de ter consciência do que
podem causar e provocar. Diante disso, capacitar-se para combatê-los, é
essencial.
Antes que destruam suas resistências, aprender a dizer o que
pensa, diretamente, para cada um deles, é um bom passo. Ter conhecimento e
segurança evitará que interfiram em suas vidas de modo negativo e, finalmente,
estar de bem com a vida, aumentará seu potencial combativo. Um ambiente
arejado, repleto de luz, respeito e autoconfiança, pode não eliminar, mas
afasta esses fungos e impede sua proliferação.
Texto do livro "Pensar para sair do lugar"