domingo, 30 de agosto de 2020

Olhe para dentro!



Como a muralha da China, temos uma barreira imensa construída para nos proteger dos perigos e controvérsias da vida. Aquilo que nos dá sustentação está seguro atrás dessa coluna, onde ninguém, livremente, pode transpô-la, onde nada pode ser expurgado, tão somente, trabalhado!
Fronteira entre o consciente e inconsciente, o que somos, como chegamos, o quanto percorremos, registros dos temores, acervo das histórias, atrás dessa muralha encontram-se os aspectos mais insondáveis de nossa existência, entretanto, o que lhe dá sustentação e guarida.
Justifica aonde chegamos, explica desvios, resguarda fragilidades, contém emoções e inúmeros mecanismos desenvolvidos para alicerçar essas mesmas justificativas. Encerra em si, princípios, valores, crenças, fortemente enraizadas ou, fragilmente, distribuídos entre os escombros dos sonhos destruídos.
Lá está a alavanca que nos impulsiona ou as amarras que nos fazem retroceder, a vibração ou apatia, o vigor que liberta ou o temor que encarcera. O mais interessante, convivem no mesmo espaço, uma unidade dividida e íntegra, sabe-se lá como.
Inútil ignorá-la, inútil desprezá-la, ela é a própria vida contada através da utilização dos materiais disponibilizados para construí-la. Carinho, afeto, desprezo, compreensão, exemplos, imposições, violências, frustrações, amores, desilusões, amizades, traições, gratidões, reconhecimentos, tristezas, os mais diferentes produtos, das mais diferentes fontes, nos mais diferentes momentos.
É o seu retrato, é o nosso retrato! Encerra-se em cada um, independente, única, poderosa. Faz estragos, traz vitórias, sempre é convite para a superação. Quando se resgata todos os efeitos e se busca o entendimento, compreensão das razões e implicações derivadas, é possível alterar a trajetória e a história.
Por isso é necessário encarar a muralha quando ela se torna empecilho para a felicidade, motivo de dor, fardo pesado para se carregar sozinho. Por isso a importância da busca pelo autoconhecimento, pela estabilidade emocional, pela segurança nos procedimentos.
Estar um passo à frente, significa ter ou conquistar a habilidade de descobrir as brechas que acessam o interior da muralha, conquistá-la sem agredi-la, interceder sem criar dependências, respeitá-la porque ela lhe contará os segredos mais íntimos, amá-la porque é a sua história, a de ontem, a de hoje e aquela que ainda será escrita.
                                                                                                                                                                                                  Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

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