segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Cair do cavalo

 


Você já deve ter passado por um momento de desequilíbrio! Tipo causador de um escorregão, de um tombo, de um estatelamento lamentável, aquele que sempre acontece na presença de inúmeras testemunhas, via de regra.

E os desequilíbrios resultantes da falha de conexões dos neurônios? Uma olhada de lado e quando retorna ao que fazia, o que fazia mesmo? Ou então uma palavra tão usual e, no exato momento que mais necessitava dela, não há meio de se manifestar? E quando alguém lhe chama pelo nome? Você olha, olha, olha! Quem é essa pessoa, meu Deus? Momentos que lembram o som emitido pelos computadores quando algo falha. Aquele “tum”, o branco total, pagador de incríveis micos.

Certa vez, para exibir seus dotes de cavaleiro, montou num cavalo, desses de estância turística que refuga a possibilidade de se distanciar muito de seu estábulo. O danado foi até determinado ponto e, mesmo com a rédea curta, fez questão de retornar ao ponto de partida, sob o olhar triunfante e cínico de seu treinador, um senhor de idade avançada e um mal humor estranho para uma atividade turística. Soltou para todo mundo ouvir “esses bostas da cidade não conseguem tirar meus cavalos daqui”, com um risinho de deboche.

Não se deu por vencido, ainda mais que a assistência era grande e o sorriso debochado lhe causou indignação. Desmontou, pegou no chão uma pequena haste de madeira que lhe serviria para fazê-lo cavalgar e montou de novo. O bicho percebeu a intenção e já começou a querer lhe tirar de seu lombo. Esperneou, empinou, mas não o intimidou. Só com o zunido da vara no ar, sem acertá-lo, percebeu que era melhor colaborar. O velho olhando com o canto do olho!

Subiu ladeira acima, em grande estilo. O bicho ficou manso, recebeu seus afagos de gratidão, tornou-se parceiro. Cavalgou um pouco lá no alto, mas tinha que retornar para permitir o passeio de outros turistas. Foi o que fez, ladeira abaixo, a galopar em boa velocidade, para impressionar a assistência. Bem na curva, próximo da linha de partida, a sela se deslocou para baixo.

Por sorte, aprendeu a deixar só as pontas do sapato no estribo e foi o que lhe salvou de um vexame maior, o de ser arrastado até aquele homem ranzinza e mal humorado. Todo mundo preocupado, inclusive seus filhos e esposa, que correram até onde estava, mas ele se levantara e limpava a calça da poeira acumulada no atrito com a terra. Nada demais havia ocorrido, fora o constrangimento do tombo.

As rédeas já nas mãos daquela figura antipática, que se aproximou também, provavelmente para mais uma de suas tiradas. Antes que abrisse a boca, ouviu a batatada, que todo mundo escutou: “tem uns bostas no campo que falam muito, mas nem sabem selar o cavalo que oferecem para montaria.”. Passou batido e levou o animal para descansar, tentando disfarçar o aborrecimento. Confessou, mais tarde, que não tinha o hábito de apertar muito a sela, porque os cavalos não saiam dali.

Mico generalizado! E como podemos aproveitar esse episódio para aprender sobre comportamento no ambiente corporativo e evitar o famoso “tum”?

Primeiro, antes de se aventurar a montar em um cavalo estranho, verifique você mesmo as condições existentes para montaria. Segundo, não faça nada para impressionar terceiros, faça apenas pelo seu próprio prazer, isso alivia a carga de preocupação e você aproveita muito mais a cavalgada. Terceiro, lembre-se que ambientes desconhecidos propiciam oportunidades para o inusitado, dessa forma, para realmente impressionar a assistência, utilize da prudência.

O outro lado também deixa lições! Primeiro, nunca despreze alguém porque veio de onde veio. Não existe um local definido para apresentar grandes talentos. Segundo, esteja onde estiver, trabalhe com bom humor, respeito e consideração por seus clientes. Terceiro, dê sempre o seu melhor, não importa o quanto isso lhe custe agora, faça tudo como se o usuário final fosse você. Jamais treine ou capacite alguém para o confinamento. Ao contrário, apresente-lhe a liberdade, o espaço, os inúmeros caminhos, os novos horizontes.

Afinal, todos devem contribuir, de alguma forma, para que ninguém caia do cavalo!

                                                                                                                                                                                    Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

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