Cada um tem seu gosto. Duas tarefas caseiras que não me
importo em realizar, lavar louça e passar roupa. É algo que não me aborrece, ao
contrário, promove um relaxamento, quase uma terapia.
Lavar roupas não implica em muitas habilidades, basta uma
esponja, detergente, água e um local para escoar os excessos da própria água.
Passar roupas é diferente, exige estratégia. Por onde começar, de que forma
marcar os vincos, como vencer os tecidos mais rebeldes, como deslizar o ferro.
É uma verdadeira operação de logística!
Cada roupa tem suas
características próprias, naturezas diferentes, finalidades distintas, formatos
e detalhes que dificultam ou facilitam a tarefa de passá-las. Algumas, pela
delicadeza, exigem a presença de mais um tecido, que possa suportar o calor do
ferro sem prejudicá-las. Outras, não desamassam nem com reza brava.
Dei essa pequena introdução para contar-lhes um deslize, que
pode ocorrer com qualquer um, é verdade, mas não deixa de ser uma lição que
pode ser aproveitada em qualquer área administrativa, em qualquer gestão:
aprenda a ler o rótulo!
Temos o péssimo costume de confiar em demasia em nossas
experiências. Agimos como se fossemos os reis da cocada preta, principalmente
na execução de tarefas que acreditamos ter o domínio absoluto. Menosprezamos
manuais de instruções, nos recusamos a ser conduzidos, queremos conduzir.
Ganhei uma bela nova camisa! Ela foi lavada antes de ser
usada e deixada com as demais roupas para passar. Foi a primeira que peguei! O
ferro quente, devidamente abastecido de água para vaporização. Estendi a gola
na tábua, aproximei o ferro, o tecido colou na lâmina de aço, mesmo num pequeno
toque, a camisa chamuscou.
Fiquei observando aquele serviço e procurando entender o que
havia ocorrido. Simples, não li as instruções presa numa etiqueta na lateral da
camisa: “100% poliéster, passar pelo avesso, produzido na China”! Que coisa, os
chineses me provocaram uma lembrança, quase um puxão de orelhas. Desprezar
instruções pode trazer consequências sérias, inclusive, definitivas.
Mesmo que você lide com a rotina, lembre-se que algo sempre
pode acontecer diferente. Ao receber uma instrução, leia com atenção, elimine
as dúvidas, vá com fé, mas vá com certeza! É melhor perguntar antes do que
provocar uma situação irreversível mais tarde. No mínimo, caso cause
constrangimento questionar ou mesmo dificuldade de compreensão, peça auxílio
para alguém que já tenha a experiência em seu currículo e procure rever a
execução proposta.
Outra coisa importante, da mesma maneira como tecidos são
diferentes uns dos outros, é preciso ser cuidadoso com o material que se
recebe, suas funções e propriedades podem ser distintas e devem ser,
previamente, conhecidas. O mesmo pode ser aplicado para gente! Cada um é um, e
cada qual precisa de trato distinto, bobagem querer unir todos num mesmo grupo.
Isso também pode provocar chamuscos.
Finalmente, tem o outro lado da moeda, muitas instruções não
atendem as exigências mínimas de compreensibilidade. Podem ter sido escritas
por alguém despreparado para a missão de ensinar. Alguém que imagina estar
falando para si mesmo, ou seja, um instrutor de araque. Cuidado duplo, nessas
circunstâncias! Se ocorrer um problema, ninguém vai culpar o instrutor, esse é
quase imune. Portanto, desconfiando de algo, vá atrás de desatar o nó, vá atrás
de quem lhe passe segurança e confiabilidade. Esse é o porto seguro.
Agora, se a coisa é nova, aí não tem jeito. Leitura atenta,
dúvidas dissipadas, trocar ideias com os colegas, tudo para não ter que
lamentar, ao levantar a camisa, o contorno da marca da displicência.
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