domingo, 13 de setembro de 2020

“Homo Fungo”

 


Talvez você conheça, talvez conviva com alguém dessa natureza, talvez trabalhe com esse fenômeno ou, pelo menos, já tenha ouvido falar sobre os exemplares mais pitorescos da espécie. Gosto de apelidá-los de “homo fungo” e classificá-los distantes dos fungos que não fazem mal e auxiliam a humanidade na proteção contra pragas, em alimentos, na alimentação ou como decompositores naturais. Esses fazem mal sim, para os outros ou para eles mesmos.

Querem exemplos? É só correr os olhos, agitar a lembrança ou puxar pela memória. Vê se não são conhecidos alguns conceitos sobre certas características marcantes. Temos o “homo fungo” bolor ou mofo, obcecado por permanecer sempre na mesma, nunca sai do lugar ou tem disposição para mudanças. Na sua casa, é um “ajuntador” de coisas empoeiradas, quase um colecionador de trecos inúteis. No trabalho, é mais conhecido como o que não tira o traseiro da cadeira, nem por decreto, exceção para horário de refeição ou saída.

O bolor está no pensamento, na dificuldade de participação, na intolerância por trabalho em equipe. É um organismo simples, sem qualquer tipo de pretensão, pronto a não colaborar com nada, disposto a criticar qualquer coisa que lhe perturbe o sossego, segue arrastando, ou melhor, sendo arrastado pela vida.

O “homo fungo” micose, aquele que gruda e coça muito. Você quer se livrar dele, mas não consegue. É o cidadão pegajoso por natureza, aquele que elogia se tirar algum proveito, trabalha somente quando está sob supervisão, tem a característica da mala sem alça, nos relacionamentos familiares e profissionais. É de sua índole bajular ou puxar sardinha para seu lado. Exímio galanteador dos superiores e eficaz no autoelogio assume realizações que jamais foram suas, sem o menor constrangimento.

É aquele que chega pensando em abafar, com piadinhas sem graças, quer roubar a festa, mas a grande roubada é estar ao seu lado, porque a coceira começa a incomodar, de tal forma que as pessoas vão se afastando e, mesmo assim, ainda ficam com aquela sensação de ardência, porque a lembrança teima em permanecer. É preciso dar um tempo para desanuviar. Esse incômodo não tem remédio que cure, só a paciência.

Finalmente, apresento o “homo fungo” parasita, especialista em sugar energia, confiança, alegria. Vive para retirar de terceiros todo entusiasmo, reduz a pó qualquer tentativa de estar bem, feliz, realizado. No lar, nada está bom, mas não faz ou realiza coisa alguma, apenas critica os outros que tentam fazer, mas como um soberano, quer que lhe sirvam o tempo todo. É aquele que acredita que todos têm deveres e somente ele, direitos.

No ambiente corporativo, faz questão de marcar posição, normalmente, contrária a qualquer coisa que possa representar o sucesso de alguém. Argumenta sem conhecimento, poda conversas, quando não tem o que dizer, inventa algo do tipo “se a coisa estourar quero ver o prejuízo”, às vezes, tão completamente sem sentido, mas com tanta veemência, que consegue desestabilizar o proponente. Duro é tê-lo em posição de comando, aí sim o estrago é bem maior.

E agora, conseguiu visualizar a presença de alguns deles? Tenho certeza que sim! Suas características são inconfundíveis e marcam presenças onde quer que estejam. Não é preciso um grande esforço para identificá-los, porém, conviver com essas pragas não é tarefa das mais agradáveis. É preciso serenidade e capacidade de reação adequada para espantá-los. Não se trata de eliminação, trata-se de ter consciência do que podem causar e provocar. Diante disso, capacitar-se para combatê-los, é essencial.

Antes que destruam suas resistências, aprender a dizer o que pensa, diretamente, para cada um deles, é um bom passo. Ter conhecimento e segurança evitará que interfiram em suas vidas de modo negativo e, finalmente, estar de bem com a vida, aumentará seu potencial combativo. Um ambiente arejado, repleto de luz, respeito e autoconfiança, pode não eliminar, mas afasta esses fungos e impede sua proliferação.

                                                                                                                                                                                     Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

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