domingo, 20 de setembro de 2020

O copo ao meio

 


Já ouviu aquela história sobre o copo meio cheio ou meio vazio, com certeza. Se já ouviu, por que venho perturbar sua cabeça com esse papo novamente? Realmente, é algo antigo! Para alguns otimistas o copo está meio cheio, para os pessimistas, meio vazio, ou seja, faz lembrar aquela antiga máxima da física que diz tudo depender do ponto de referência.

Podemos estar em movimento ou não, podemos visualizar uma curva e de outro ponto de referência, uma reta. Dessa forma, precisamos sempre esclarecer de qual posição observamos determinado fato. Aí está o segredo, só posso afirmar tal coisa, se essa coisa estiver referenciada, posto que, poderá existir mais do que uma verdade.

Quando palestrantes sugerem associação entre otimista e pessimista, ao ver metades distintas de um copo, pode haver uma inversão de valores. Por exemplo, quem observa o copo meio vazio, poderá enxergar a oportunidade que existe na metade vazia do copo, no sentido de preenchê-la e, de repente, tornar pessimista quem enxerga meio cheio e se satisfaz com essa resposta.

Aliás, podemos reformular alguns conceitos. Por exemplo, o copo está cheio ou vazio em relação a que? Ao líquido ou ao ar que contém? Se despejarmos a água para um copo menor, qual seria a impressão? E, se ao contrário, um copo enorme? Hora, o volume é o mesmo, mas assume dimensões distintas, de acordo com o recipiente utilizado.

Quanto vale meio copo d’água para quem está sedento? E para quem está tomando um refrigerante, qual valor do mesmo meio copo d’água? Alguns, ao ver um copo pela metade de água, simplesmente, lançam o líquido pelo ralo. Outros, entretanto, podem aproveitá-lo para molhar uma planta, por exemplo.

O fato é que não importa o conteúdo e toda parafernália de observações, explicações, conceitos, dinâmicas. Importa o ponto de referência. Esse sim define as razões pelas quais você concluiu alguma coisa sobre determinado fato, o restante é mera especulação, uma tentativa de moldar o raciocínio livre das pessoas.

Tachar alguém pela resposta que deu, como otimista ou pessimista, é mais uma das tentativas de enquadramento da diversidade na unicidade. E o interessante é que as pessoas incorporam o raciocínio como verdade, enquanto se distanciam da capacidade de reflexão e, se de fato, aquilo tem sentido, até mesmo, se tem validade didática.

Ainda prefiro algo mais determinante para citar como exemplo. Lembro-me de um texto onde dois vendedores, representantes de uma empresa de calçados, são enviados para a Índia. Um encaminha seu relatório para a matriz informando do equívoco existente ao enviá-lo para aquele local. Ninguém usava sapatos. O outro, diz em seu relatório que aquela é a oportunidade de sua vida e que realizará grandes vendas, pois naquele país ninguém usava sapatos.

Vejam “ninguém usava sapatos” é uma constatação da observação, uma referência idêntica. O que fazer dela é uma opção efetiva, que pode distinguir atitudes consideradas otimistas ou pessimistas. Observaram bem a palavra “pode”? Mesmo que sirva para identificar um comportamento humano, é preciso cuidado para não ferir também o princípio da inteligência, a sua e a dos outros, que permite interpretações distintas, observações inesperadas, conclusões desconcertantes.

Enfim, lembre-se do ponto de referência, antes de rotular alguém.

Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

Um comentário:

Elazier Barbosa disse...

Olá Antonio Luiz, tenho também uma história de um vendedor de câmaras frigoríficas, que foi passar as férias no Alasca.
Ai aconteceu algo inusitado.
Começaram a aparecer pedido de compra de câmaras frigoríficas lá do Alasca.
Então o gerente do vendedor, mandou um email, todo espantado, querendo saber qual argumento ele usou para vender um aparelho que congela coisas, num lugar congelante.
Resposta: Provei para para os esquimós que as nossas câmaras frigoríficas eram mais quentinhas que os iglus deles!