domingo, 28 de fevereiro de 2021

Virá

 


É preciso lutar! Nada basta em si mesmo, somos elementos de uma grande rede, um emaranhado gigantesco onde o equilíbrio predomina. Um entra e sai sem fim, trocas de posições, oscilações, variáveis, dependências que se alastram e, apesar de ser uma peça única, você não se sustentaria se os fios que a tecem fossem incapazes de suportar seu peso.

A vida nos suporta, apesar das agressões, dos atentados, das manias, dos pecados, ela sempre nos dá a chance de prosseguir. Sua resiliência não perde a natureza elástica, ainda que tentemos, das formas mais absurdas, provocar­-lhe o rompimento. Sua força não é abalada, sua estrutura poderosa continua a tecer a teia que abrigará novos usuários, outras conexões.

Derrotado hoje, vitorioso amanhã; triste hoje, feliz amanhã; fraco hoje, forte amanhã; covarde hoje, corajoso amanhã e vice-versa, ou só vice ou só versa, simplesmente nada disso é relevante, verdadeiramente importante. O que importa mesmo é o comportamento em cada um desses estágios, as atitudes, os valores que são cultivados e os mecanismos adotados. Esses demonstram as estratégias utilizadas, deixam rastros, deixam marcas, dei­xam exemplos.

Exemplos, bons ou ruins, rapidamente são transmitidos para a rede, numa ressonância espetacular como nenhuma outra atividade. Promoverão seguidores, alguns que pensam, outros que não. Alguns que apenas seguem o que lhes pareceu mais adequado e outros que erguerão bandeiras de apoio ou condenação. Como em tudo na vida, cada um pagará seu preço. Os omissos pela ausência, os envolvidos pelos riscos e os promotores pelo comportamento. Ninguém escapa!

Trate então de definir sua luta, empunhar suas armas, buscar suas ra­zões, aquilo que lhe inspira à batalha. Bobagem fugir, cada um tem a sua e, em determinado momento, será cobrado a desempenhar o papel de guer­reiro. Pode fugir, acovardar-se, mas a cobrança não terá piedade e sua alma não terá paz. Melhor marchar, a caminhada minimiza os temores, tran­quiliza, a rede virá com reforços, jamais você lutará sozinho, e, se houver justiça, sua luta não será vã.

Afinal, da derradeira batalha ninguém se isenta, a morte é certa. Ter­ríveis são mortes que ocorrem ainda em vida, liquidando etapas precio­sas, sonhos paralisados, emoções ressequidas, letargia, desespero, fracasso. Dessa sina, Deus nos livre, por essa tentação não sejamos tentados, desse mal permaneçamos afastados.

Amém!

                                                                            Trecho do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 21 de fevereiro de 2021

O imponderável no caminho

 


Inimigos existem em todos os lugares. A questão é como tratá-los no ambiente corporativo: com ou sem compaixão? Arrisca um palpite?

Desde a revolução industrial, acirraram-se a inveja, a cobiça, o desejo, enfim, os pecados capitais deram o ar de suas respectivas graças nos ambientes produtivos. Instalaram as lutas pessoais pelo poder, reconhecimento e fama.

Mecanismos de proteção foram criados: avaliações mais sofisticadas de desem­penho, entrevistas, programas de qualidade. A ética passou a ser um conceito de uso constante e se chegou à Governança Corporativa, onde o desejo de harmonia, transparência, visibilidade, a constituição de conselhos, comitês e outras tantas ferramentas positivas, tentaram enquadrar, como 171, aquelas manifestações tão prosaicas.

O sucesso foi apenas relativo. Uma coisa é determinar regras claras para o con­vívio e existência corporativa, a outra, totalmente diferente, é querer baixar por de­creto o fim dos pecados. São reações humanas que, com excelentes lideres, podem ser suavizadas, nunca descartadas. Inútil negar, no convívio diário, os transtornos que causam quando chegam ao extremo dos conflitos, a declaração de guerra ao “oponente”: a partir de agora você é meu inimigo. O conflito está armado.

Perseguições, ciladas, fofocas, comentários maldosos, injúrias, difamações, to­dos os ingredientes danosos da convivência humana se afloram e tomam espaço da razão e do bom senso. O que fazer? Como reagir? Partir para o confronto?

Embora o impulso seja esse mesmo, o de revidar as agressões e partir para o contra-ataque, a situação exige ainda um pouco de cautela e profissionalismo. Pri­meiro, para ser considerado inimigo de alguém, esse alguém foi incomodado, justa ou injustamente, por alguma ação ou perspectiva de ascensão ou por algum futrico mal resolvido. Tente verificar e, se ainda houver tempo de qualquer esclarecimento, o momento é oportuno para isso.

Se o tempo já passou, prepare-se: os aborrecimentos tentarão minar sua re­sistência e seus nervos. O confronto será inevitável. Ascensão ou queda! Agora a dependência será de outras forças, normalmente ocultas e perigosas.

Só não vacile quanto ao seu profissionalismo e conduta moral, mas se empenhe ao máximo para mostrar suas competências e desfazer as intrigas da única forma que as pessoas conseguem visualizar: através do exemplo e comportamento compatíveis.

Ainda que a consequência final do embate lhe seja desfavorável, preserve seus valores, somente eles poderão lhe dar sustento, guarida e obtenção do apoio da­queles que, realmente, fazem ou farão a diferença no futuro.

Portanto um conselho final: opte sempre por ser um guerreiro(a) da luz. Con­tra a luz, os pecados capitais se esvaziam, perdem o espaço, tornam-se inócuos. Tanto no trabalho como na vida!

                                                                                   Trecho do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Quase um sonho


Impressiona a indisposição das pessoas para pequenas gentilezas. Qual o custo de um “bom dia”, de um sorriso na expressão, de uma delicadeza no trânsito, de um auxílio a quem necessita? Enquanto corria, avaliava isso e, com exceção daqueles que já se acostumaram com meu costumeiro “bom dia”, pouca gente sequer res­ponde ao cumprimento.

Há uma trava! Talvez acreditando que ninguém dá um “bom dia”, desejando, simplesmente, que seja um belo dia. Deve haver segundas intenções nisso, ou é alguém querendo perturbar o sossego, ou ainda com algum interesse escuso ten­tando se aproximar, dentre as muitas teorias conspiratórias.

Parece uma carga pesada retribuir! Contribuir para uma melhoria nos relacio­namentos humanos, nem pensar. Cada um na sua e segue o trem da indiferença, que só para na estação da autofagia, a estação dos devoradores de si mesmos.

Interessante é a multiplicação dessa coisa malcriada. Nos condomínios pessoas, mesmo convivendo tão próximos, incapa­zes de emitir um som que, ao menos, confirme que pertençam à mesma espécie. Nas ruas, nem se fale, é quase uma aberração trocar duas palavras com alguém. Vivemos invisíveis uns para com os outros.

Quando essa mania bate na porta do mundo corporativo fica, ainda, mais in­tensa sua desfaçatez. Desequilibra, fragiliza, tão intensamente quanto ser vítima de ações discriminatórias. É chato conviver com pessoas desprovidas de respeito, mais chato, é ter que agir de uma forma igual, também ser indiferente, para evitar que autoestima abaixe para níveis alarmantes.

Apesar de ser um mecanismo de defesa, não é a melhor tática a ser utilizada. Primeiro porque não alterará a realidade e, em segundo lugar, perpetua o que está equivocado. Fora isso, sofre quem tem essa sensibilidade; o mal-educado, nem se dá conta de sua cretinice.

Existe uma forma simples de se resolver essa questão; simples na ideia, mas difícil de implementar. Basta criar coragem, suficiente, para chegar até o de­safeto e questionar: “Fulano, está acontecendo algum problema? Fiz algo que lhe desagradou, sem perceber?”. Normalmente, vai causar impacto e a pessoa irá rea­gir negando a existência de qualquer problema. Ela retornará com uma pergunta, depois da negação: “Por quê?”. Responda rapidamente: “Por nada, acho que só foi uma impressão.”.

Pronto! Bata em retirada e observe o comportamento nos próximos dias. De­verá haver uma significativa melhora. Aquela pulga atrás da orelha vai abrir os olhos e o cérebro daquele ser esquisito. Essa é a atitude mais adequada. Caso não dê resultado, ainda assim não abra a mão de seus princípios, afinal, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Insista, não por ele, mas por sua crença naquilo que lhe é saudável.

                                                                               Trecho do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Sensatez

 


O que aconteceria se todos tivessem o preparo intelectual para responder sobre qualquer tema, dos mais diversos assuntos?

Provavelmente, nada! As divergências, novas experiências, aprendizados, não existiriam. Seria o “ó do borogodó”, dada a desnecessidade de evoluir, pois tudo já estaria definido. Nada restaria para conversar ou ouvir. Provavelmente atrofiariam-se línguas e ouvidos.

É preciso compreender que para cada um foi reservado determinado talento. Anos de estudos levaram à formação de bons administradores, engenheiros, médicos, professores, psicólogos, terapeutas e tantos outros profissionais.

Além deles, também com estudos, observações, tentativas e erros, experiências, habilidades, competências indiscutíveis, surgiu outra gama de excelentes profissionais: marceneiros, costureiras, pedreiros, comerciantes, manicures, mecânicos, agricultores...

Picaretas sempre existiram, mas a seleção natural deu ou dará conta deles.

O mundo é uma grande diversidade, ou seria universidade? Cada um colabora com aquilo que entende em profundidade e domina a matéria, a tal ponto que, a cada instante, descobertas são apresentadas, inovações são disponibilizadas.

Somos “experts” em determinados assuntos, nem tanto para outros e, totalmente despreparados para muitos.

Ninguém se atreveria a ter a assessoria de um profissional específico, se não confiasse em sua capacidade, em seu preparo, na supremacia do serviço que oferece.

É preciso ter consciência, inclusive, para evitar cair na “roubada” de “arrotar” sabedoria e ter como consequência o arrependimento futuro, motivado pela soberba ao defender pontos de vistas onde você só é um curioso, e mais nada.

Cuidado ao opinar, ao levantar a voz para defender posições que, na sua essência, são apenas informações desconexas, ligadas com plataformas chamadas “interesses próprios”, “reflexos do meu espelho”, “terminais dos íntimos propósitos”.

 Limite-se a aprender, a consultar a fonte, a discernir sobre o que, de fato, é possível concluir. Em suas considerações, cite o profissional que estudou determinado assunto e o ofereceu para discussão, não cometa o desatino de assumir o que não lhe pertence, onde sua competência está longe de dominar; aquilo que você não vive no seu dia a dia.

Médico é médico, cientista é cientista, mídia é mídia, paciente é paciente. Nessa pandemia, da desinformação, você tem o direito de confiar ou duvidar de qualquer lado, criticar ou elogiar.

Pode ter milhões de razões que o façam seguir determinada corrente; siga-a livremente, até com a convicção dos novos conhecimentos adquiridos.

Só argumente, discuta com respeito, se informe cada vez mais, mas não perca de vista sua condição de leigo. Deixe para o tempo e para a história julgar quem está certo ou errado. Não provoque ainda mais confusão.

O nome disso é sensatez!