sábado, 27 de junho de 2020

Deixe a culpa pra lá!



Confesse! Quantas vezes o passado se fez presente e interrompeu a possibilidade do futuro? É preciso estar consciente que as marcas adquiridas durante a existência refletem naquilo que representa o que somos hoje. As boas e más convivem em nosso cérebro, muitas vezes tão arraigadas que nem percebemos o controle que têm em nossas vidas.
As boas nos conduzem para frente, as más podem nos levar para trás ou impossibilitar o avanço. Identificar e realizar um trabalho de resgate, dessas más, pode ser um processo longo e bastante dolorido, mas temos que enfrentá-lo se quisermos desatar nós das amarras coercitivas para nossas realizações pessoais.
Tudo o que se relaciona com os comportamentos inadequados diante de uma realidade, de frustrações decorrentes de passagens não superadas, mediante violação violenta ou não de crenças e valores, pode deixar rastros pelo caminho. Torna-se necessário percorrer o caminho inverso, na busca pela superação.
Uma boa ajuda de profissionais, da área de Psicologia, auxilia no resgate dessas emoções retidas no universo de nosso inconsciente. Entendendo as razões, encarando o problema de frente, é possível traçar um plano de ação que neutralize seus efeitos negativos e alivie a carga pesada que, muitas vezes, é a causa principal de tantos dissabores.
O que se encontra oculto, invisível, não permite a claridade e necessitamos da claridade, somos dependentes dela para nossa realização. Enquanto não houver claridade, não há clareza, não há liberdade de escolha, não há como potencializar a amplitude de nossos talentos.
Não se sabote, é preciso livrar-se desses incômodos. Caso não consiga identificá-los, busque ajude! Não tenha medo, nem vergonha, corra atrás das explicações. É triste desejar e acreditar ser incapaz, é frustrante não entender o que impossibilita um passo à frente, é decepcionante travar diante do objeto do desejo uma batalha insana, que tem sempre como resultado, uma nova derrota.
Cumpra com seu destino. O autoconhecimento é o grande agente transformador. Quando nos toca, faz-se a luz, quando a luz se faz, a liberdade desponta na forma de convicções. Você passa a ser, exatamente, aquilo que é, enfrenta novos desafios com a retaguarda da segurança e a convicção de que se trata apenas de mais um desafio, nada mais que isso.
Texto do livro "Pensar para sair do lugar!"

domingo, 21 de junho de 2020

O movimento


Você pode optar por parar! Afinal, liberdade é levar a sério o livre arbítrio. Não desejar seguir em frente, abortar um projeto, implodir um sonho acalentado por tanto tempo, é um direito que lhe assiste. Aos assistentes, apenas o respeito é permitido, desde que suas decisões não lhes afetem diretamente.
Apesar do poder, é preciso ter consciência que há um caminho a percorrer. Bom ou ruim, você irá percorrê-lo. Pode não ser corajoso, destemido, valente, ainda assim irá percorrê-lo. Vencerá essas limitações durante o trajeto, passo a passo, mesmo sem saber quantos faltam, cada um deles lhe deixará mais próximo da chegada, ainda que não tenha a menor ideia de onde ela fica.
Interromper qualquer coisa, simplesmente abrirá novas variáveis de um mesmo caminho, o seu caminho. Ainda que você quisesse ficar estático, não conseguiria. A Terra gira, querer transgredir esse fato é supor possível estancar o tempo, impedir a trajetória traçada pela harmonia do movimento de todo o universo.
Considere, então, a opção pelo reconhecimento. Reconhecer nossa fragilidade diante da realidade que nos impulsiona para frente, mesmo contra os próprios desejos. Ainda que estático, a cada fração de tempo há um deslocamento e você jamais fica no mesmo lugar. Entenda isso, para poder refletir a respeito do poder da ação e reação.
Ao abortar um projeto, implodir um sonho, forças de encantamento tornam-se forças de destruição. Avançam impiedosas em direção das colunas que sustentam o equilíbrio interior. Arrasa a autoestima, agiganta a autopiedade, destrona o entusiasmo e, no trono, coroa a depressão. Vale à pena, imputar-se tal sofrimento?
Essa é a questão principal, identificar as razões pelas quais isso ocorreu. Se essa, realmente, era sua vontade, ou foi vontade alheia que repercutiu como sua. Avaliar as condições daquele momento, físicas, psicológicas, financeiras, familiares, para entender o impacto causado em sua decisão.
Dados computados, hora de processar seu conteúdo e, quem sabe, não desistir, postergar, talvez, até que as condições sejam mais propícias para prosseguir. A energia liberada em seus planos tem que ser canalizada para o propósito, seja ele qual for. Lembre-se, ela já foi liberada, está em expansão, não a queira de volta, não a queira no sentido oposto com a mesma intensidade.
                                                                                                                                                        Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Inusitado

                                                                                                                                                    





Buscava alternativas para driblar a crise que se abatera em minha empresa. Vendas baixas, dívidas altas, o fantasma do desastre rondando. Fui até a empresa de um amigo, que atuava no mesmo ramo livreiro, disposto a lhe propor um trabalho conjunto.
Eram dois pavimentos, o de baixo onde os livros eram expostos, o de cima, um mezanino onde o estoque era guardado e, na frente, o escritório. Ao fundo, janelas, tipo basculantes. Enquanto conversávamos, como um raio, atravessou meu campo de visão um beija-flor. Isso tirou a concentração na conversa e o vi seguir em frente e retornar rapidamente. Ao tentar sair para o espaço de onde viera, era obstruído pela janela e retornava, novamente, para um voo atormentado por sobre a loja.
Várias idas e vindas depois notei que o estresse lhe roubava a valentia. Posicionei-me na grade do mezanino, que limitava o espaço e era possível observar toda a livraria daquele ponto. Na tentativa de auxiliar aquela criaturinha desesperada, ergui os braços e posicionei o dedo indicador, convidando-a para o pouso.
Loucura! Como ela entenderia esse gesto? Por incrível que pareça, para meu assombro, aquelas asas potentes a levaram até o meu dedo, onde se encolheu ao pousar. Alguma razão a fez entender meu gesto de solidariedade, talvez o desespero, a falta de opção. Ela estava ali, assustada, mas esperançosa.
Ainda incrédulo, calmamente me dirigi à janela, aquele importante hóspede com suas garrinhas firmes em meu dedo. Coloquei o braço para fora e fiz um movimento com o braço, para cima, mostrando-lhe que podia alçar voo, estava livre. Foi o que fez, nem olhou para trás, seguiu em frente, retornando ao seu mundo de semeador.
Minha alma mais leve, apesar de todas as ocorrências massacrantes, sorriu. Se um colibri pousou em meus dedos, então nem tudo estava perdido. Já avaliou a probabilidade dessa pequena, frágil, inquieta e veloz ave, pousar em seu dedo indicador, suplicando por ajuda? Nem eu, mas aconteceu e isso era um sinal, um bom sinal, uma energia nova, apontando algum tipo de direção!
A empresa não resistiu, o episódio marcante tornou mais leve a passagem do furacão, pois havia acendido uma chama de esperança. Como o colibri, estava me debatendo na busca de soluções. Não havia! Necessitava apenas da ajuda de alguém que me mostrasse o caminho para a liberdade e ela veio, no plural, inúmeras pessoas que demonstraram sua solidariedade, carinho e afeto, vieram abrir a janela e me permitiram voar.

Era uma resposta, talvez resultado do que havia plantado. Continuei a jornada, fortalecido, disposto a semear novos campos, alçar diferentes voos, aprender com os erros, conhecer mais, para, ao encontrar outras criaturas em dificuldades, oferecer meu apoio, retribuindo o que, gratuitamente recebi, mesmo quando ajudava.
 Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Ter ou não ter!


Discuto qualquer opinião, aceito outra linha de pensamento, ainda que represente o oposto do que penso. Se concordo, contesto ou não, é outra história. Sem essa de patrulhamento ou coerção. Sou um admirador da liberdade de pensamento, ideias, inovações. É o que traz mudanças, reflexões e possibilidades de melhorias.
Por essa razão, certas coisas me incomodam, e como!
Quer um exemplo? O que leva tanta gente a nadar contra a correnteza em questões vinculadas aos avanços tecnológicos. Evidente que compreendo a necessidade de proteção, corporativismo, riscos para os negócios, mas tem sentido se posicionar contra o inevitável?
Não é mais fácil despender energia na busca de integração, incorporação ou novas opções de trabalho? As pessoas esquecem que o novo sempre vem, esquecem também que já foram inovadoras um dia e que o mundo tem uma dinâmica incapaz da estagnação, ele simplesmente segue em frente, enquanto a gritaria fica para trás.
Outro ponto de tirar do sério é o raciocínio unilateral, que leva ao radicalismo, promove o emburrecer, retroage ao período das trevas, quando, qualquer tentativa de argumentação, tinha como destino a fogueira. Funciona mais ou menos assim: “eu discuto com você, desde que as minhas ideias prevaleçam”.
Aí vem os “coxinhas”, os “mortadelas”, os “playboyzinhos”, os manos, os riquinhos e outros adjetivos, nem sempre publicáveis, dividindo uma mesma espécie, a humana, em vários grupos, subgrupos, estereótipos diversos, direita e esquerda, posições contrárias, incapazes de conciliação.
Tudo choca e se choca! O jeito é partir para o convencimento na base da porrada, fim de papo.
Talvez a melhor divisão seriam apenas duas: os que têm caráter e os que confundem caráter com poder. Quem tem caráter, esteja onde estiver, na política, no sindicato, na empresa, na igreja, no comércio, na indústria, na casa, no lazer, terá o poder natural mesmo sem exercê-lo, porque desnecessário, já que vivenciam a ética.
Os que confundem caráter com poder, vão exercê-lo mesmo sem tê-lo. Consequências lógicas: roubalheiras, cascudos, propinas, vantagens, tapetes puxados, aliciamentos, lavagens cerebrais, educação em quinto plano, subserviência em primeiro, ética em último.
Os primeiros lutam por todos, os segundos para manter seus privilégios. Quem está certo ou errado? Melhor perguntar para os universitários, esse mérito é mesmo muito complicado e pode dar confusão cutucar a ferida.
          Eu não tenho a menor dúvida de qual lado ficar, mas eu sou eu. E você?