Você
já pulou corda na vida? Quantas “queimou” e teve que voltar para a fila? A corda executa um semicírculo e o
tempo que leva para percorrer a curva é o tempo necessário para que o reflexo
permita pular inúmeras vezes, ou poucas, ou nenhuma. Cada um tem sua graduação.
São três
estágios: o primeiro para velocidades baixas, menos complexas, um ritmo que
permite, aos menos hábeis, estimular o gosto para saltar ao estágio seguinte; o
da velocidade normal, com ritmo cadenciado, que exige maior controle dos pulos
e, finalmente, o estágio avançado, onde a loucura da velocidade acaba
dificultando o acompanhamento.
“Salada,
saladinha, bem temperadinha, com sal, pimenta, fogo, foguinho, fogão”, assim, a
molecada se divertia e começava, sem saber, a evoluir para a longa jornada,
rumo ao universo adulto. A cantiga ficou
para trás, mas ainda são utilizadas em diversas situações.
Querem ver!
Primeiro emprego: o desejo de começar, desde o anúncio para vaga de emprego,
“salada...” O que vem? Filas de
candidatos, entrevistas com perguntas pitorescas, exigências, dinâmicas
(algumas constrangedoras), necessidade de experiências (pode?), habilidades; o
“fogão” chega rápido demais, pegando a perna no ar e derrubando o candidato que
tem que ir em busca de melhor preparo.
E quando o
emprego é conquistado? Lá vem a corda, agora rodada por gente com nomes
imponentes: “chefe”, “gerente”, “coordenador”. Ela é batida também pelos
“colegas” do tipo “quanto mais rápido rodar, mais rapidamente elimino o
concorrente”, e a brincadeira tem sequência.
Perdeu o emprego?
Momentaneamente, a corda é girada com mãos de pessoas que cantam apenas a
última palavra, “fogão”, incessantemente. Contas caindo (“fogão), dinheiro
rareando (“fogão”), cheque especial estourado, financiamentos, brigas na
família, “fogão”, “fogão”, “fogão”!
Foi agraciado com
uma carreira brilhante, somente os que seguram a corda mudam. Agora, com
designações pomposas: “presidente”, “vice-presidente”, “superintendente”,
“diretores” e, lá estão eles, como se fossem a hélice de um ventilador, fazendo
a corda girar ardentemente, “fogão”, “fogão”, “fogão”. Talvez fosse indicada,
para a circunstância, outra palavra bem representativa do mundo corporativo,
“pressão”, “pressão”, “pressão”.
Pensa que os
empreendedores escapam? Novamente, só os que rodam a corda têm seus nomes
alterados: “vendas”, “fluxo de caixa”, “capital de giro”, “contabilidade”,
“bancos”, “produtos”, “funcionários”, “fornecedores”, e haja preparo!
Acredito que boa
parcela das brincadeiras de crianças foram inventadas por adultos de dois grupos: interesseiros e realistas.
Aos primeiros, a
função atribuída é a de treinar novas gerações para, num projeto sinistro de
capacitação, prepará-las para futuras cobranças. Aos segundos, a informação,
nem um pouco velada, de que a cobrança é pesada, requer inclusão constante de
contemporâneas habilidades para sobrevivência e, quem quiser se destacar,
precisa pular miudinho, literalmente.
Quem está nas
pontas das cordas, neste momento?
Texto do livro “Pensar para sair do lugar – As
vertentes da vida”.