domingo, 6 de dezembro de 2020

Corneteiros

 


Custa admitir que um cidadão pode ser bem-sucedido por seus méritos. É menos doído “cornetear” os atributos negativos que, “imaginados”, contribuíram para esse sucesso.

Aí vem a ladainha: no trabalho, é “puxa-saco”, ou serviu a propósitos pouco elogiáveis, ou é parente, amigo, amante, qualquer coisa que o valha para curar a “dor de cotovelo”.

No casamento, é sempre o parceiro que não teve compreensão, sensibilidade, provocou a discussão ou deixou chegar ao fim, como se fosse possível esquivar-se da responsabilidade mútua pelo equilíbrio matrimonial.

Na política, melhor nem tecer comentários, já que discutir virou sinônimo de batalha e racionalizar tornou-se “palavrão”. O comportamento predominante é o de torcedor de futebol, que xinga, odeia o time e a torcida adversária, sem ter a menor ideia das razões desse comportamento.

Esse é o sentimento que fica quando projetamos em outros as impressões que são nossas. Uma olhada de viés; aquele disfarce ao olhar para alguém e que revela sua real intenção.

Imediatamente descoberta, sem graça, a preocupação é dissimular. Parece um “cachorro com o rabo entre as pernas”, após ser tocado de algum lugar onde sua presença incomodava.

E assim caminha a humanidade, até que fenômenos naturais, “choque de retorno”, em contínuo movimento circular, acabam atingindo, em cheio, os que teimam em definir o mundo através de seu raciocínio miúdo.

Quem percorreu essa estrada, sabe que não compensa apontar o dedo para o próximo e sim em sua própria direção. Dedicar-se à construção de um interior fortalecido, gerador dos estímulos necessários para conquistas diferenciadas, estimuladoras dos encantamentos profissionais e pessoais.

O resto é pura perda de tempo.

domingo, 29 de novembro de 2020

É sabedoria

 


Quando em situações extremas, de alguma maneira, a proposta da ação contraria suas crenças, seus valores e princípios, cuidado! A armadilha da aceitação, será causa de apreensão futura.

Você está a um passo de tornar-se prisioneiro do erro, escravo da atitude, compromissado com alguém que lhe trará a ruína da alma, negociada pela pechincha de ser aceito.

Jamais faça nada que possa se arrepender mais tarde. Melhor enfrentar o medo, as consequências da retidão, do que amargar os efeitos do desvio de comportamento.

Não há emprego, não há pagamento, não há relacionamento, que satisfaça uma essência destruída. Pensa nisso, quando a oportunidade estiver contaminada pela maldade.

É como estar confinado em uma ilhota, no meio de um rio, cercado por jacarés. A opção de pular na água deixa de existir, resta aguardar por ajuda, se acostumar com a solidão ou tornar-se mais um jacaré, e juntar-se a eles.

Quando “pintar” a dúvida, questione: Eu condeno alguém agir dessa forma comigo?  Eu acredito que é bom, justo e necessário? É a atitude que confirma a confiança das gerações que me antecederam e daqueles que em mim confiam?

Se a condenação, o acreditar e a confirmação não provocar dúvidas, olha nos olhos do proponente e diga sim, com convicção!

Caso contrário, um sonoro não deverá ecoar por sua história.

Basta a consciência serena, que transforma a ameaça de um tremendo pesadelo, em sonho de crescimento, satisfação íntima, realização pessoal, continuidade do processo evolutivo rumo à conquista da liberdade, da excelência profissional.

O melhor dos acertos!

domingo, 22 de novembro de 2020

Como implantar qualquer coisa

 

Atenção: afirmo que não existe outra forma de implantar, seja lá o que for, esquecendo-se que a informação deve fluir por todos os cantos, para todos os níveis de usuários e interessados! Todos, significa todos! Não há exceções. Qualquer descuido, e pronto, lá se vão horas e horas de planejamento ralo abaixo.

Quando todas as variáveis e possíveis problemas tornam-se resolvidos. Quando todos os estudos apontam que é hora e momento de ocorrer o tão aguardado instante mágico da implantação, o pulo do gato está em disparar as teias de uma enorme rede de contatos, até que ela atinja os últimos e mais distantes participantes.

Cada etapa deverá ser minuciosamente programada em linguagem simples e objetiva, facilmente compreendida e rapidamente absorvida por todos. Como a uma progressão geométrica, o engajamento, o comprometimento devem aflorar naturalmente. O conhecimento será um belo diferencial e a certeza de que se está fazendo parte do processo, aliviará a alma dos aflitos e estimulará a colaboração em níveis muito mais altos.

O jogo é simples, mas deve ser jogado com muito cuidado. E cada etapa vencida tem que ser, efetivamente, acompanhada de avaliações e agradecimentos. Elogios são estímulos e fazem uma diferença inacreditável, principalmente, quando auxiliar na solução de algum entrave, daí é imprescindível. Reconhecer o trabalho da equipe é direcionar uma energia vigorosa, capaz de oferecer um retumbante sucesso, muito maior do que o vangloriar solitário possa oferecer.

Coloque para liderar, o processo de implantação, alguém que conheça todos os meandros e caminhos que deverão ser percorridos. Não precisa ser, necessariamente, alguém que conheça tecnicamente todas as etapas, porém, que tenha duas qualidades básicas: bom articulador e estrategista na comunicação, além, é claro, de ser alguém respeitado por todos na empresa.

Dessa escolha, vai depender o sucesso da caminhada!

                                                                                         Texto do livro "Pensar para sair do lugar"


domingo, 8 de novembro de 2020

Ser forte

 

Caminhava cabisbaixo, acompanhando os passos que revezavam, à vista de seus olhos, direito e esquerdo, num ritmo pouco denso, marcado pela mesma apatia que impingira à sua vida. Acabara de sair de mais uma jornada frustrante de trabalho.

Sabia que o dia seguinte seria a repetição tediosa do hoje, do ontem, do sempre. Desde que fora preterido para um cargo de confiança, como o mundo desabasse, sobreveio-lhe a imersão na mais profunda apatia.

Seu brilho apagara naquele dia, de tal forma, que a simples menção sobre o assunto, lhe causava um profundo sentimento de impotência.

Os dias se arrastavam, vagarosos, desprovidos de emoções. Como chegou a esse ponto, alguém reconhecido como ótimo colaborador? Qual o atalho que se esqueceu de seguir para, rapidamente, escapulir dessa condição lamentável de caramujo arrastando lentamente seu pesado fardo?

Existem duas explicações: a primeira sobre a insensibilidade de lideranças na empresa e, a segunda, sobre a incapacidade pessoal de lidar com revezes. Uma ou outra causam quebra na frágil estrutura emocional, criada apenas para as não decepções.

O pecado das lideranças, não está no fato de preterir o candidato a uma promoção, de jeito nenhum. Guardados os critérios de avaliações corretos e profissionais, nada há de equívoco no fato de promover alguém melhor preparado para a missão.

O mal se instala na ausência de perspicácia na compreensão do clima e expectativas existentes, ou seja, dificuldade de se colocar no lugar do preterido e tentar entender como ele elaborava a questão.

Por outro lado, nada justifica, e até corrobora a escolha recair em outro colaborador, que alguém se deixe levar ao desespero, pelo simples fato de não obter algo que esperava, comportamento próprio do público infantil.

Decepções não são muletas para abdicação da luta. Ao contrário, deveriam constar na lista dos mecanismos de superação, dos incentivadores da resistência.

É preciso absorver o impacto da frustração, no menor tempo possível, e lembrar sempre: sua qualidade independe do cargo que ocupa, sua reputação vai muito além dos limites da empresa onde atua no momento.

Portanto, insira mais afinco em sua determinação, mais vigor em seu cérebro, mais energia em sua alma. É apenas mais um desafio, encare-o de frente e reverta o processo, ainda que isso ocorra em uma outra empresa.

                                                                                          Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 18 de outubro de 2020

SUPRASSUMO

 


Tem gente que se considera o suprassumo, muito próximo de estar entrando para o seleto grupo das divindades. Consideram-se excelentes em tudo que fazem, como fazem, onde fazem. Narizinhos empinados, sob o olhar complacente e entediado, ob­servam a trajetória dos demais mortais, acompanhando aqueles que foram eleitos para viver na mediocridade, com um certo desconforto. Soberba dez, humildade zero.

Mais impressionante, é a reação de admiração, exaltação, idolatria e até excita­ção, demonstrada pela plebe que desprezam. São os paradoxos, mecanismos cujas reações são exatamente contrárias às expectativas que, teoricamente, provocariam. Talvez a prova de que não somos tão racionais assim. Alguém faz um barulho qualquer, e pelo efeito “manada”, seguimos a multidão, sem conhecer ou sem que­rer saber para onde estamos sendo conduzidos.

Quantos desencontros desastrados a humanidade presenciou em sua história, vítima de decisões dessa natureza. Ao seguir os passos equivocados do personalismo, da ânsia por líderes, viu-se metida em guerras, massacres, misérias, destruição, mas ainda não aprendeu a lição, talvez porque goste da posição de massa de manobra, desprezando a capacidade de reflexão, por comodismo ou ausência de educação.

Vamos retornar ao ponto de partida, os suprassumos. Pessoas que acham ter atingido o topo do conhecimento e se sentem poderosas por isso. Dizem ter al­cançado a excelência. Será?

Excelência, na minha opinião, é uma linha de chegada que sempre se afasta quando dela nos aproximamos, cobrando ainda mais empenho, dedicação e pai­xão pelo que se faz, num movimento contínuo. É preciso ser humilde no enten­dimento que somos eternos aprendizes, necessitados do conhecimento e sempre dependentes das ações que resgatem os sonhos de nossas mentes e os tornem reais.

Como podem ter atingido a excelência, pessoas que desprezam princípios bá­sicos para obtenção da excelência? Não faz sentido, é um processo de aprimora­mento infindável, constante, enraizado no convívio sadio com outras pessoas, que abrange conhecimentos e experiências vivenciadas, que vai muito além de uma conquista individual e passa a ter o caráter coletivo, pelo pressuposto da participa­ção de muitos, para almejar sua possibilidade.

Portanto, suprassumos, sempre é tempo de retomar o bonde da história, descer do pedestal e refazer suas trajetórias na qualidade de cidadãos comprometidos, canalizando o potencial que representam, para a construção de um mundo melhor para todos. Não é só uma decisão acertada, é uma decisão necessária, que inclui aí, a salvação da própria alma.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Integridade

 


Integridade

Poucas virtudes são tão avassaladoras quanto a integridade. Um ser íntegro é aquele completo, reto, justo, inatacável, perfeito em sua condição humana. Faz parte de uma elite, aquela que não abre mão dos seus valores, ainda que o mundo convide a isso. Pessoas que cultivam o bem e o bom caráter, acima de qualquer tentação, mesmo que isso resulte em reveses.

São os santos, os anjos, que convivem conosco e, invisíveis, passam por seres normais. Não são! Pertencem a uma dimensão diferenciada, carregam nos ombros o fardo da esperança, da crença no amanhã. Ainda que discretos, representam a possibilidade de continuidade da espécie humana. Espalhados por aí, num número bastante considerável, exercem o sacerdócio da esperança, utilizam a logística do exemplo e seguem o princípio da soma e multiplicação.

Agem pela convicção do amor, da gratidão e do perdão. Há coerência na firmeza dos posicionamentos, nas virtudes que exprimem o sentimento a favor do outro, não importa quem seja, origem, condição social. Encaram os homens com firmeza, mas enxergam suas almas frágeis em busca da liberdade perdida na ausência de luminosidade, cobertas pelo manto do individualismo, da paixão pelo ter e desprezo pelo ser.

Modernos, utilizam os recursos tecnológicos, porém, não deixam de lado gestos, atenção, olho no olho, em razão disso, são confundidos com extravagantes quando, na realidade, ao estabelecer contatos onde há cumplicidade, sentimento e emoção, simplesmente, agem, humanamente. Essa humanidade é o grande diferencial!

Provavelmente fazem parte de sua vida, mas pelas características da invisibilidade, sentidos destreinados, provavelmente, não lhes permitiram identificá-los. Procure lembrar-se do último acolhimento, da última palavra de carinho, do incentivo despretensioso, do abraço, da palavra certeira, do resgate em momentos delicados de sua vida. Quem estava ali?

Estão por aí mesmo, talvez você seja um deles, entretanto, se não for, há sempre a oportunidade de sê-lo, o potencial é o mesmo, as oportunidades também, basta força de vontade, desejo de ter uma vida com sentido, útil para si e para todos, capaz de revolucionar o mundo a partir da recuperação, valorização e crença no amor, precursor de toda manifestação de integridade.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Cair do cavalo

 


Você já deve ter passado por um momento de desequilíbrio! Tipo causador de um escorregão, de um tombo, de um estatelamento lamentável, aquele que sempre acontece na presença de inúmeras testemunhas, via de regra.

E os desequilíbrios resultantes da falha de conexões dos neurônios? Uma olhada de lado e quando retorna ao que fazia, o que fazia mesmo? Ou então uma palavra tão usual e, no exato momento que mais necessitava dela, não há meio de se manifestar? E quando alguém lhe chama pelo nome? Você olha, olha, olha! Quem é essa pessoa, meu Deus? Momentos que lembram o som emitido pelos computadores quando algo falha. Aquele “tum”, o branco total, pagador de incríveis micos.

Certa vez, para exibir seus dotes de cavaleiro, montou num cavalo, desses de estância turística que refuga a possibilidade de se distanciar muito de seu estábulo. O danado foi até determinado ponto e, mesmo com a rédea curta, fez questão de retornar ao ponto de partida, sob o olhar triunfante e cínico de seu treinador, um senhor de idade avançada e um mal humor estranho para uma atividade turística. Soltou para todo mundo ouvir “esses bostas da cidade não conseguem tirar meus cavalos daqui”, com um risinho de deboche.

Não se deu por vencido, ainda mais que a assistência era grande e o sorriso debochado lhe causou indignação. Desmontou, pegou no chão uma pequena haste de madeira que lhe serviria para fazê-lo cavalgar e montou de novo. O bicho percebeu a intenção e já começou a querer lhe tirar de seu lombo. Esperneou, empinou, mas não o intimidou. Só com o zunido da vara no ar, sem acertá-lo, percebeu que era melhor colaborar. O velho olhando com o canto do olho!

Subiu ladeira acima, em grande estilo. O bicho ficou manso, recebeu seus afagos de gratidão, tornou-se parceiro. Cavalgou um pouco lá no alto, mas tinha que retornar para permitir o passeio de outros turistas. Foi o que fez, ladeira abaixo, a galopar em boa velocidade, para impressionar a assistência. Bem na curva, próximo da linha de partida, a sela se deslocou para baixo.

Por sorte, aprendeu a deixar só as pontas do sapato no estribo e foi o que lhe salvou de um vexame maior, o de ser arrastado até aquele homem ranzinza e mal humorado. Todo mundo preocupado, inclusive seus filhos e esposa, que correram até onde estava, mas ele se levantara e limpava a calça da poeira acumulada no atrito com a terra. Nada demais havia ocorrido, fora o constrangimento do tombo.

As rédeas já nas mãos daquela figura antipática, que se aproximou também, provavelmente para mais uma de suas tiradas. Antes que abrisse a boca, ouviu a batatada, que todo mundo escutou: “tem uns bostas no campo que falam muito, mas nem sabem selar o cavalo que oferecem para montaria.”. Passou batido e levou o animal para descansar, tentando disfarçar o aborrecimento. Confessou, mais tarde, que não tinha o hábito de apertar muito a sela, porque os cavalos não saiam dali.

Mico generalizado! E como podemos aproveitar esse episódio para aprender sobre comportamento no ambiente corporativo e evitar o famoso “tum”?

Primeiro, antes de se aventurar a montar em um cavalo estranho, verifique você mesmo as condições existentes para montaria. Segundo, não faça nada para impressionar terceiros, faça apenas pelo seu próprio prazer, isso alivia a carga de preocupação e você aproveita muito mais a cavalgada. Terceiro, lembre-se que ambientes desconhecidos propiciam oportunidades para o inusitado, dessa forma, para realmente impressionar a assistência, utilize da prudência.

O outro lado também deixa lições! Primeiro, nunca despreze alguém porque veio de onde veio. Não existe um local definido para apresentar grandes talentos. Segundo, esteja onde estiver, trabalhe com bom humor, respeito e consideração por seus clientes. Terceiro, dê sempre o seu melhor, não importa o quanto isso lhe custe agora, faça tudo como se o usuário final fosse você. Jamais treine ou capacite alguém para o confinamento. Ao contrário, apresente-lhe a liberdade, o espaço, os inúmeros caminhos, os novos horizontes.

Afinal, todos devem contribuir, de alguma forma, para que ninguém caia do cavalo!

                                                                                                                                                                                    Texto do livro "Pensar para sair do lugar"