Você já deve ter passado por um momento de desequilíbrio!
Tipo causador de um escorregão, de um tombo, de um estatelamento lamentável,
aquele que sempre acontece na presença de inúmeras testemunhas, via de regra.
E os desequilíbrios resultantes da falha de conexões dos
neurônios? Uma olhada de lado e quando retorna ao que fazia, o que fazia mesmo?
Ou então uma palavra tão usual e, no exato momento que mais necessitava dela,
não há meio de se manifestar? E quando alguém lhe chama pelo nome? Você olha,
olha, olha! Quem é essa pessoa, meu Deus? Momentos que lembram o som emitido
pelos computadores quando algo falha. Aquele “tum”, o branco total, pagador de
incríveis micos.
Certa vez, para exibir seus dotes de cavaleiro, montou num
cavalo, desses de estância turística que refuga a possibilidade de se
distanciar muito de seu estábulo. O danado foi até determinado ponto e, mesmo
com a rédea curta, fez questão de retornar ao ponto de partida, sob o olhar
triunfante e cínico de seu treinador, um senhor de idade avançada e um mal
humor estranho para uma atividade turística. Soltou para todo mundo ouvir
“esses bostas da cidade não conseguem tirar meus cavalos daqui”, com um risinho
de deboche.
Não se deu por vencido, ainda mais que a assistência era
grande e o sorriso debochado lhe causou indignação. Desmontou, pegou no chão
uma pequena haste de madeira que lhe serviria para fazê-lo cavalgar e montou de
novo. O bicho percebeu a intenção e já começou a querer lhe tirar de seu lombo.
Esperneou, empinou, mas não o intimidou. Só com o zunido da vara no ar, sem
acertá-lo, percebeu que era melhor colaborar. O velho olhando com o canto do
olho!
Subiu ladeira acima, em grande estilo. O bicho ficou manso,
recebeu seus afagos de gratidão, tornou-se parceiro. Cavalgou um pouco lá no
alto, mas tinha que retornar para permitir o passeio de outros turistas. Foi o
que fez, ladeira abaixo, a galopar em boa velocidade, para impressionar a
assistência. Bem na curva, próximo da linha de partida, a sela se deslocou para
baixo.
Por sorte, aprendeu a deixar só as pontas do sapato no
estribo e foi o que lhe salvou de um vexame maior, o de ser arrastado até
aquele homem ranzinza e mal humorado. Todo mundo preocupado, inclusive seus
filhos e esposa, que correram até onde estava, mas ele se levantara e limpava a
calça da poeira acumulada no atrito com a terra. Nada demais havia ocorrido,
fora o constrangimento do tombo.
As rédeas já nas mãos daquela figura antipática, que se
aproximou também, provavelmente para mais uma de suas tiradas. Antes que abrisse
a boca, ouviu a batatada, que todo mundo escutou: “tem uns bostas no campo que
falam muito, mas nem sabem selar o cavalo que oferecem para montaria.”. Passou
batido e levou o animal para descansar, tentando disfarçar o aborrecimento.
Confessou, mais tarde, que não tinha o hábito de apertar muito a sela, porque
os cavalos não saiam dali.
Mico generalizado! E como podemos aproveitar esse episódio
para aprender sobre comportamento no ambiente corporativo e evitar o famoso
“tum”?
Primeiro, antes de se aventurar a montar em um cavalo
estranho, verifique você mesmo as condições existentes para montaria. Segundo,
não faça nada para impressionar terceiros, faça apenas pelo seu próprio prazer,
isso alivia a carga de preocupação e você aproveita muito mais a cavalgada.
Terceiro, lembre-se que ambientes desconhecidos propiciam oportunidades para o
inusitado, dessa forma, para realmente impressionar a assistência, utilize da
prudência.
O outro lado também deixa lições! Primeiro, nunca despreze
alguém porque veio de onde veio. Não existe um local definido para apresentar
grandes talentos. Segundo, esteja onde estiver, trabalhe com bom humor,
respeito e consideração por seus clientes. Terceiro, dê sempre o seu melhor,
não importa o quanto isso lhe custe agora, faça tudo como se o usuário final
fosse você. Jamais treine ou capacite alguém para o confinamento. Ao contrário,
apresente-lhe a liberdade, o espaço, os inúmeros caminhos, os novos horizontes.
Afinal, todos devem contribuir, de alguma forma, para que
ninguém caia do cavalo!
Texto do livro "Pensar para sair do lugar"