Vamos encarar a realidade: existe uma dose de
ilusionismo no mundo corporativo quando se trata de estabelecer as metas e
definir parâmetros de desenvolvimento no longo prazo. Por mais acuradas que
sejam as informações, estudos profundos apresentando tendências, estatísticas,
gráficos, análises, existe uma barreira intransponível, conhecida pelo codinome
de imprecisão.
Como um adendo do mundo social, empresas
carregam consigo a maldição da imprecisão. Tudo corria a mil maravilhas, mas o
tomate alterou os índices inflacionários; a tendência era de crescimento de
determinados setores, mas do outro lado do mundo alguém postou algo que
ocasionou uma revolta religiosa cujo efeito foi elevar o barril de petróleo às
alturas; respostas duras da natureza, às nossas desmedidas intervenções no
equilíbrio ecológico, chegam a varrer do mapa, literalmente, empresas que se
esmeravam em planejar o futuro.
Portanto, no frigir dos ovos, mesmo
aventurando-se a cercar todas as possibilidades de intercorrências, é uma
missão divina, não adaptada aos mortais e, assim sendo, dentro do padrão
individual do achismo, ou mais para prestidigitação do que razão.
Antes que os arautos desses mirabolantes estudos
me condenem a arder no fogo do inferno, apresso-me a elogiar o trabalho que
realizam, porque ao se aventurarem a definir ocorrências futuras sempre
contribuem muito mais com o tempo presente, do que o tempo que avaliam. Incentivam
o exercício da reflexão, seus apontamentos abrem novos horizontes, cenários são
delineados, tornam atuais ocorrência futuristas, trazem novas informações,
abrem novos campos de pesquisa e, principalmente, preparam os olhos
empreendedores para as mudanças.
É essa a virtude de se aventurar no tempo
vindouro, na realidade, uma tentativa de antecipação desse futuro, de atender
necessidades, querências, vencer limitações, encarar com ousadia o
desconhecido, suprindo necessidades que ainda nem foram despertadas. Ao buscar
superar a barreira do tempo, quem planeja quer se antecipar aos acontecimentos
e quem paga por isso, quer tomar uma carona nessa iniciativa. Salve o achismo!
Texto do livro "Pensar para sair do lugar"