Ter mobilidade e estar preso em um cubículo, não
é ter mobilidade, pode ter a capacidade de, mas efetivamente, não a tem.
Portanto, mobilidade sem espaço, sem liberdade, não é mobilidade, é
imobilidade.
Por certo você já ouviu a expressão chula, “não
tira a bunda da cadeira”, numa referência aos pretensos líderes, que se
contentam em acompanhar tudo, comodamente, instalados em suas poltronas, sem a
experiência do real, sem o contato essencial com a pulsação do cotidiano, determinante
no estabelecimento de diretrizes e de novas abordagens.
Muitos têm o espaço, porém, não sabem, não se
interessam, ou simplesmente, não conseguem abrir a porta. Outros abrem a porta,
vociferam alguns impropérios e a fecham rapidamente, e muitos abrem a porta,
correm em desabalada carreira, e não param para admirar e desejar aquilo que
pretendem conquistar. Desolados, retornam ao ponto inicial e novamente acomodam
os respectivos traseiros em suas poltronas de couro.
Minha concepção admite dois tipos de mobilidade,
uma restrita ao tempo e espaço, outra, à divagação, à abstração. Ambas
necessárias, ambas complementares e não excludentes. Quando a porta se abre, é
preciso sair, admirar a paisagem, calmamente observar e buscar o entendimento,
assimilar a realidade, lambuzar-se dela e do conhecimento que propicia. Só
assim, será possível acionar a mobilidade do pensamento, que permite nos
meandros infinitos das conexões cerebrais, incrementar, inovar, na busca pelas
melhorias.
Portanto, é preciso cuidado ao afirmar que
alguém, num cubículo, está imobilizado, sem produtividade, prisioneiro do medo
de enfrentar a realidade. Pode ser que esteja utilizando a outra mobilidade, a
do raciocínio. E essa é, extremamente, libertadora, desde que validada pela
performance anterior, da porta aberta ao espaço do conhecimento, além das
fronteiras e do alcance das poltronas giratórias.
Caso contrário, a criatura faz parte efetiva
daquele séquito de admiradores do “não me comprometa”, por nada tiro os
fundilhos desta cadeira, a não ser, é claro, quando solicitado para alguma
reuniãozinha na sala da gerência ou diretoria, ou, muito mais confortável, no
encerramento do expediente. “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, é o refrão
desse comportamento retrógrado e estuporado.
Texto do livro "Pensar para sair do lugar"
Um comentário:
Parabéns pelo texto!
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