domingo, 10 de janeiro de 2021

Mobilidade não é só movimento

 


Ter mobilidade e estar preso em um cubículo, não é ter mobilidade, pode ter a capacidade de, mas efetivamente, não a tem. Portanto, mobilidade sem espaço, sem liberdade, não é mobilidade, é imobilidade.

Por certo você já ouviu a expressão chula, “não tira a bunda da cadeira”, numa referência aos pretensos líderes, que se contentam em acompanhar tudo, comodamente, instalados em suas poltronas, sem a experiência do real, sem o contato essencial com a pulsação do cotidiano, deter­minante no estabelecimento de diretrizes e de novas abordagens.

Muitos têm o espaço, porém, não sabem, não se interessam, ou simplesmente, não conseguem abrir a porta. Outros abrem a porta, vociferam alguns impropérios e a fecham rapidamente, e muitos abrem a porta, correm em desabalada carreira, e não param para admirar e desejar aquilo que pretendem conquistar. Desolados, retornam ao ponto inicial e novamente acomodam os respectivos traseiros em suas poltronas de couro.

Minha concepção admite dois tipos de mobilidade, uma restrita ao tempo e espaço, outra, à divagação, à abstração. Ambas necessárias, ambas complementares e não excludentes. Quando a porta se abre, é preciso sair, admirar a paisagem, calmamente observar e buscar o entendimento, assimilar a realidade, lambuzar-se dela e do conhecimento que propicia. Só assim, será possível acionar a mobilidade do pensamento, que permite nos meandros infinitos das conexões cerebrais, incre­mentar, inovar, na busca pelas melhorias.

Portanto, é preciso cuidado ao afirmar que alguém, num cubículo, está imobi­lizado, sem produtividade, prisioneiro do medo de enfrentar a realidade. Pode ser que esteja utilizando a outra mobilidade, a do raciocínio. E essa é, extremamente, libertadora, desde que validada pela performance anterior, da porta aberta ao es­paço do conhecimento, além das fronteiras e do alcance das poltronas giratórias.

Caso contrário, a criatura faz parte efetiva daquele séquito de admiradores do “não me comprometa”, por nada tiro os fundilhos desta cadeira, a não ser, é claro, quando solicitado para alguma reuniãozinha na sala da gerência ou diretoria, ou, muito mais confortável, no encerramento do expediente. “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, é o refrão desse comportamento retrógrado e estuporado.

Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo texto!