domingo, 24 de janeiro de 2021

O achismo conveniente

 


Vamos encarar a realidade: existe uma dose de ilusionismo no mundo corpo­rativo quando se trata de estabelecer as metas e definir parâmetros de desenvolvi­mento no longo prazo. Por mais acuradas que sejam as informações, estudos pro­fundos apresentando tendências, estatísticas, gráficos, análises, existe uma barreira intransponível, conhecida pelo codinome de imprecisão.

Como um adendo do mundo social, empresas carregam consigo a maldição da imprecisão. Tudo corria a mil maravilhas, mas o tomate alterou os índices inflacio­nários; a tendência era de crescimento de determinados setores, mas do outro lado do mundo alguém postou algo que ocasionou uma revolta religiosa cujo efeito foi elevar o barril de petróleo às alturas; respostas duras da natureza, às nossas desme­didas intervenções no equilíbrio ecológico, chegam a varrer do mapa, literalmente, empresas que se esmeravam em planejar o futuro.

Portanto, no frigir dos ovos, mesmo aventurando-se a cercar todas as possibi­lidades de intercorrências, é uma missão divina, não adaptada aos mortais e, assim sendo, dentro do padrão individual do achismo, ou mais para prestidigitação do que razão.

Antes que os arautos desses mirabolantes estudos me condenem a arder no fogo do inferno, apresso-me a elogiar o trabalho que realizam, porque ao se aven­turarem a definir ocorrências futuras sempre contribuem muito mais com o tempo presente, do que o tempo que avaliam. Incentivam o exercício da reflexão, seus apontamentos abrem novos horizontes, cenários são delineados, tornam atuais ocorrência futuristas, trazem novas informações, abrem novos campos de pesquisa e, principalmente, preparam os olhos empreendedores para as mudanças.

É essa a virtude de se aventurar no tempo vindouro, na realidade, uma tentati­va de antecipação desse futuro, de atender necessidades, querências, vencer limita­ções, encarar com ousadia o desconhecido, suprindo necessidades que ainda nem foram despertadas. Ao buscar superar a barreira do tempo, quem planeja quer se antecipar aos acontecimentos e quem paga por isso, quer tomar uma carona nessa iniciativa. Salve o achismo!

                                                                        Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

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