Já ouviu aquela história sobre o copo meio cheio ou meio
vazio, com certeza. Se já ouviu, por que venho perturbar sua cabeça com esse
papo novamente? Realmente, é algo antigo! Para alguns otimistas o copo está
meio cheio, para os pessimistas, meio vazio, ou seja, faz lembrar aquela antiga
máxima da física que diz tudo depender do ponto de referência.
Podemos estar em movimento ou não, podemos visualizar uma
curva e de outro ponto de referência, uma reta. Dessa forma, precisamos sempre
esclarecer de qual posição observamos determinado fato. Aí está o segredo, só
posso afirmar tal coisa, se essa coisa estiver referenciada, posto que, poderá
existir mais do que uma verdade.
Quando palestrantes sugerem associação entre otimista e
pessimista, ao ver metades distintas de um copo, pode haver uma inversão de
valores. Por exemplo, quem observa o copo meio vazio, poderá enxergar a
oportunidade que existe na metade vazia do copo, no sentido de preenchê-la e,
de repente, tornar pessimista quem enxerga meio cheio e se satisfaz com essa
resposta.
Aliás, podemos reformular alguns conceitos. Por exemplo, o
copo está cheio ou vazio em relação a que? Ao líquido ou ao ar que contém? Se
despejarmos a água para um copo menor, qual seria a impressão? E, se ao
contrário, um copo enorme? Hora, o volume é o mesmo, mas assume dimensões distintas,
de acordo com o recipiente utilizado.
Quanto vale meio copo d’água para quem está sedento? E para
quem está tomando um refrigerante, qual valor do mesmo meio copo d’água?
Alguns, ao ver um copo pela metade de água, simplesmente, lançam o líquido pelo
ralo. Outros, entretanto, podem aproveitá-lo para molhar uma planta, por
exemplo.
O fato é que não importa o conteúdo e toda parafernália de
observações, explicações, conceitos, dinâmicas. Importa o ponto de referência.
Esse sim define as razões pelas quais você concluiu alguma coisa sobre
determinado fato, o restante é mera especulação, uma tentativa de moldar o
raciocínio livre das pessoas.
Tachar alguém pela resposta que deu, como otimista ou
pessimista, é mais uma das tentativas de enquadramento da diversidade na
unicidade. E o interessante é que as pessoas incorporam o raciocínio como
verdade, enquanto se distanciam da capacidade de reflexão e, se de fato, aquilo
tem sentido, até mesmo, se tem validade didática.
Ainda prefiro algo mais determinante para citar como
exemplo. Lembro-me de um texto onde dois vendedores, representantes de uma
empresa de calçados, são enviados para a Índia. Um encaminha seu relatório para
a matriz informando do equívoco existente ao enviá-lo para aquele local.
Ninguém usava sapatos. O outro, diz em seu relatório que aquela é a
oportunidade de sua vida e que realizará grandes vendas, pois naquele país
ninguém usava sapatos.
Vejam “ninguém usava sapatos” é uma constatação da
observação, uma referência idêntica. O que fazer dela é uma opção efetiva, que
pode distinguir atitudes consideradas otimistas ou pessimistas. Observaram bem
a palavra “pode”? Mesmo que sirva para identificar um comportamento humano, é
preciso cuidado para não ferir também o princípio da inteligência, a sua e a
dos outros, que permite interpretações distintas, observações inesperadas,
conclusões desconcertantes.
Enfim, lembre-se do ponto de referência, antes de rotular
alguém.
Texto do livro "Pensar para sair do lugar"