sábado, 17 de setembro de 2022

Como conduzir pessoas

 


Um trabalho bem-feito é aquele cuja operacionalidade envolve três quesitos básicos: conhecimento, habilidade e confiança.

Conhecimento é o alicerce para qualquer atividade, seja ela qual for. Sua au­sência constitui um dos maiores focos de desacertos nas empresas, principalmente, quando atinge lideranças.

Líderes sem conhecimento é o mesmo que entregar um rebanho de ovelhas para ser vigiado por um lobo inofensivo. Não deixa de ser lobo, o rosnar, o porte, a natureza, e isso já intimidará o suficiente para que os membros se sintam acuados, sem interesse de inovar, sem liberdade, e o pior, quando sentir qualquer ameaça, conhecendo sua imagem, ele vai apelar para suas origens e uti­lizar uma dose de selvageria (ameaças, correrias, gritarias, mordidas), para conter qualquer tentativa que indique o quanto é inofensivo.

Habilidade é uma conquista do conhecimento e do treino. Resultado das ex­periências acumuladas, adicionada de uma boa pitada de talento e perseverança. Consequência direta do gostar de fazer, caso contrário é capaz de transformar seu proprietário em uma simples e repetitiva máquina de moer carne, cujo único mérito é conseguir mover a manivela ou o botão liga, desliga. Não acrescenta, não desenvolve as aptidões, apenas recebe o material bruto e esmaga-o. Não transfor­ma, não cria, não inova.

Confiança é o sentimento de amor-próprio refletido nas ações de quem tem conhecimento e habilidade necessária para desenvolver suas potencialidades. Nada parecido com arrogância ou prepotência, tudo a ver com humildade. Isso porque a confiança não é herdada, mas conquistada e quem a conquistou sabe muitíssimo bem que é um eterno aprendiz, o que o faz sempre atento às mudanças, sem jamais perder a flexibilidade ou a alma aventureira, ou a perspicácia da curiosidade.

Nesse estágio, o profissional deixa de ser um simples profissional e conquista, naturalmente, o respeito dos demais colegas. Isso lhe conferirá a autoridade da liderança, atributo indispensável para compreender, conviver e conduzir pessoas.

Trechos do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e profissional”.





domingo, 11 de setembro de 2022

A apresentação

 


Tempo, aquela coisa que encurta quando temos prazo. Horas de preparo. Re­passada dezenas de vezes cada uma das etapas previstas no processo de preparo para que não houvesse falhas. Mas parece praga de parteira, quanto maior a preo­cupação maior a possibilidade de problemas.

Com uma hora de antecedência já estava no salão. Verifica daqui, testa dali, avalia luminosidade, melhor posicionamento, esquenta a garganta. Tudo pronto e testado. A greve no setor de transporte quando muito iria ter como consequência alguns retardatários, mas nada grave.

Repasse de todos os assuntos que deveriam ser tratados. Vamos testar o som! O som pessoal! Microfone nas mãos e o clássico “testando, testando, som, som”. Cadê o som? Pouco mais de trinta minutos para o horário determinado. Pessoas já aguardando, ansiosas tanto quanto o palestrante, imaginando o que veriam pela frente, novidade ou o mesmo blá blá blá de sempre.

O microfone mudo. Quem resolve o problema? Cadê o pessoal da manutenção? Simplesmente não havia o pessoal da manutenção. Não restava outra alternativa senão eliminar o alto-falante e utilizar de plenos pulmões para contornar o episódio. Confirmem os “slides”, por favor. O projetor parou de funcionar. Esfriou ou sei lá, não havia recebido o devido pagamento para funcionar normalmente.

Cruzes, cinco minutos! Sem som, sem “Power point”. Qual era mesmo o assunto que iria tratar? Talvez sair correndo, ou simular um princípio de mal-estar e suspender a apresentação, seria uma saída. Mas não tinha jeito, era melhor abrir acesso ao salão, já que, por convicção, tenho aversão a atrasos.

Todos sentados, algumas poltronas vazias, os olhares para o palco. Entro com o microfone nas mãos. Até havia me esquecido de sua inutilidade. Boa noite! Como todos responderam, um fio de esperança despontou. Não acreditei e resolvi testar o dito cujo. E com toda a força do ar, fazendo vibrar a garganta, quase berrando, dei um novo e sonoro boa noite.

Todo mundo levou um susto. O palestrante ficou louco? O som havia retornado, sem maiores explicações. Talvez um fio mal conectado, sei lá. O fato é que voltou e tive que improvisar: “todo mundo agora está atento?”. “Então vamos lá!”.

Peguei o controle remoto do projetor e mirei em sua direção, apertando o botão “Power” na esperança de um segundo milagre.

Nova improvisação: “Vejam como o vício nos faz repetitivos. A apresentação de hoje não tem slides e eu aqui, querendo ligar o projetor”. “Estamos aqui hoje, justamente para isso: não deixar que a repetição nos faça incapazes de inovar”.

Olé! Engatei uma primeira e fui embora. Acho que ninguém percebeu a tensão.

Trechos do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e profissional”






domingo, 4 de setembro de 2022

O que convém não se chama convencido

 

Realizou um excelente trabalho? Ótimo para você e para quem lhe contratou! Essa é a moeda de troca das relações trabalhistas, mensurada pelo desempenho e, em contrapartida, pela necessidade de distinção, o chamado reconhecimento.

Não se encabule, a atividade profissional exige o equilíbrio dessa relação e isso é, extremamente, saudável, necessário para engendrar as melhores práticas em qualquer companhia que preze por suas políticas, compromissos e objetivos.

É imprescindível mostrar a que veio, fazer com que o brilho próprio possa ser identificado por aqueles que tomam decisões, mas cuidado, o que convém é estabelecer os limites éticos para que as ações se validem, sem o peso desagradável do convencimento.

Sem ilusões! Qualquer colaborador contratado, ressalvando-se a classe dos inúteis por natureza, tem como meta o aprimoramento, a evolução, o progresso profissional, galgando outros patamares, procurando distanciar-se cada vez mais das atividades inicialmente solicitadas e que exigiam menor grau de qualificação.

Todos querem e merecem brilhar, mas o significado disso é ter um brilho próprio, visível, mesmo à longa distância. Um brilho gerado pela competência, comprometimento, colaboração, parceria, respeito e um constante reciclar conhe­cimentos. Nada semelhante a querer brilhar consumindo a luz do outro, ou explo­rando a energia alheia, ou sufocando a possibilidade de brilhar.

Seja como o sol, suficiente em si mesmo, evite a “síndrome da lua”, aquela dependência da luz de terceiros. O universo corporativo permite a convivência de milhares de estrelas. A intensidade luminosa irá determinar o lugar que cada uma deverá ocupar, sem atropelos, sem colisões, naturalmente.

É evidente, também se faz mister, a contrapartida de outras estrelas, as lideran­ças corporativas, sem as quais, o equilíbrio dessa constelação pode ter o destino das estrelas cadentes, o desaparecimento, antes mesmo de tocar o solo.

Trechos do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e profissional”





domingo, 28 de agosto de 2022

A escolha do abismo

 


Aconselho lideranças a avaliarem sobre a possibilidade de enfrentar os eventos sérios, que tanto podem causar prejuízos pessoais como às empresas onde exercem os seus papéis, com a reflexão sobre abismos.

Imagine o esforço para se chegar ao topo de uma elevação geológica, e quando atinge seu pico, ao inclinar-se para admirar a paisagem, um escorregão faz o chão aproximar-se cada vez em maior velocidade.

O corpo levado pela lei gravitacional, sentirá o impacto da descida acelerada e, na remota possibilidade de ainda chegar com vida em sua base, entenderá o significado de estar em frangalhos.

Péssima opção!

Montanhas elevadas, abismos, são as crises instaladas, ou problemas a ser enfrentados. Tensão no ar, riscos evidentes, vento que sopra forte, possibilidade de desestabilização. Você nas alturas e o voo não tem asas para lhe dar sustentação. Final sempre dolorido.

Mas todos os abismos são iguais? Quem sabe optar por uma plataforma de lançamento menos dolorida? É possível estar no pico de uma montanha e mergulhar restringindo as hecatombes?

Experimente subir no pico de uma enorme montanha, com um pequeno cume, cercado de água marítima e imagina o mesmo escorregão. Pode até ocorrer algumas “raladas”, mas o impacto será absorvido pela natureza líquida, que amparará o corpo que cai.

O terreno inóspito estará presente, mas o ambiente permitirá apreciar a descida em baixa velocidade, observar e desviar de possíveis obstáculos, apreciar a vida aquática enquanto a respiração não exige o retorno imediato à superfície e, ao contrário da maçã de Newton, agradecer o efeito da densidade que lhe impulsionará para cima.

O tempo em que, na terra seca, seria dispendido em atos reflexos de proteção e tentativa de manter a esperança de vida, no oceano se tornaria um mergulho de pouca profundidade, nada que a competência de saber nadar, não solucionasse em algumas braçadas.

Quando o abismo criar sensações de vertigens, enfrente a dificuldade, mas escolha o abismo certo para estar, caso tenha a presença do inesperado. Despencar, com a queda amenizada e possibilidade de preservação da vida, é um excelente motivador para a decisão mais assertiva.

Aprenda a nadar, tenha mais tempo para encontrar as soluções com a certeza de que você jamais enfrentará o desgosto de se esborrachar na base do abismo, aliás, nem chegará a conhecê-la.




domingo, 21 de agosto de 2022

O umbigo é uma cicatriz

 

Há uma síndrome, a “síndrome do que os outros vão pensar”. Seu vírus não respeita nem o ambiente corporativo, ao contrário, nesse ambiente desenvolve suas potencialidades e apresenta quadros clínicos de intensa irritabilidade.

O paciente confunde seu “eu” com o “eu do outro”, passa a ter convicção que o “eu do outro” é o comandante supremo de seu cérebro e seu “eu” deve apenas obediência a ele.

Ao cair uma questão em suas mãos, faz a análise das razões pelas quais estão lhe questionando, será que estão duvidando de sua capacidade, o que estão pre­tendendo com isso, qual mensagem subliminar está presente nesse contexto, como meu superior gostaria que eu agisse, o que meus colegas vão imaginar?

Uma única questão transforma-se num turbilhão de dúvidas e a resposta deixa de ser, simplesmente, uma resposta e passa a ser a obsessiva necessidade de agradar alguém, sem querer desagradar ninguém.

Único antídoto para essa síndrome tem um nome gozado, até mesmo sarcás­tico, “olhe para seu próprio umbigo”. O umbigo é a marca indelével da dependên­cia que todos tivemos no início de nossas vidas. A partir de seu rompimento, as dependências foram diminuindo, e cada vez mais, passamos a utilizar de nossos próprios recursos para sobreviver.

“Olhe para seu próprio umbigo”, o cordão umbilical não está mais ali, é só uma cicatriz. A preocupação excessiva com a opinião dos outros, é uma tentativa de projetar novos cordões umbilicais em sua vida. Não há mais razões físicas para isso, basta assumir que o que os outros pensam ou deixam de pensar é um problema exclusivo deles.

A questão que precisa ser elucidada e esclarecida é a seguinte: você é você e ponto!

No momento da decisão, seja você; na dúvida pense por você, ao agradar, agra­de primeiro você. Isso não é egoísmo, é o primeiro passo para conhecer sua impor­tância e, nesse reconhecimento, entender a importância que o outro tem.

Lembre-se. as empresas necessitam de líderes e liderar significa olhar o próprio umbigo e nele observar uma boa cicatriz, de belas lembranças, mas só uma cicatriz.

Trechos do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e profissional”.


domingo, 14 de agosto de 2022

Decisão

    O que nos leva a seguir em frente chama-se determinação. Uma ação determi­nada elimina a periferia que contorna o poder de uma decisão, dela tentando nos afastar. É preciso sempre avaliar, mas avaliar para decidir. Ficar em cima do muro é para partidos políticos, não para executivos. Executivos avaliam, todavia, decidem!

Iniciamos o processo de tomar decisões em tenra idade. A vida é uma prova de múltiplas escolhas. Sempre tem aquela que parece resposta correta e não é, aquela pegadinha, montada em cima de um alçapão que sempre atrai, confunde e aquela absurda, que nada tem a ver com a matéria, entretanto, o despreparo faz com que seja assinalada. Também existem respostas corretas, diversas alternativas, e precisamos a opção da dúvida.

Decisão! Um peso muito grande para muitos e, para outros, uma simples rotina, alguns se descabelam, outros, incólumes, agem com naturalidade, uns perdem a vida e outros nem perdem o sono. É assim, em cada fase da vida, uma bifurcação aguar­dando pela decisão. Vai ser festejada ou lastimada, mas o passo será dado, sob pena de retrocesso, de mesmice ou até de morte.

Ingrediente presente nas decisões: preparo! Sem ele, riscos, dos mais contunden­tes, dos mais variados, dos mais assustadores. Quem decide sem preparo não é líder, é aventureiro. A empresa que lhe confiou o poder da decisão está em maus lençóis, uma nau suscetível a problemas, passageira de uma aventura que poderá ser bastante desagradável, amarga mesmo.

Cuidado é pouco! Esteja preparado, vá atrás da informação, conheça à exaustão, avalie o ambiente, cenários, participantes. Busque subsídios que atenuem a possibi­lidade desses mesmos riscos, ampliando a de sucesso. Só não peque pela famigerada indecisão ou de meias decisões, após a escolha do caminho.

Aí seria ouvir a sentença condenatória: lamentável! Merecidamente!


Trechos do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e profissional”.

domingo, 7 de agosto de 2022

Mais baixo

 


Existem situações em que a gritaria se espalha. Quem grita mais alto? Todos querem colocar seu ponto de vista sobre os demais. Reunião improdutiva, onde, sem muita cerimônia, assuntos de natureza particular, antigas rusgas, pontas de inveja ou ciúmes, despontam sem o menor constrangimento.

Relações interpessoais, quanta dificuldade para se obter o brevê de piloto que permita alçar voos com tranquilidade, respeitando opiniões contrárias e não deixando que o calor da discussão se transforme em fogo de paixões ou recanto das vaidades.

À medi­da que deixamos o espelho de lado e conquistamos a visão da realidade, o Narciso se afasta e dá lugar à possibilidade de entender o próximo através da compreensão das limitações próprias, sem distorções da realidade.

Não é um circuito que se faça como um bólido de fórmula 1, em alguns poucos minutos. Leva tempo, muito tempo, a vida toda. Sem essa de querer chegar, porque não há chegada, há evolução e melhoria, conquistas e muitas surpresas.

Os palcos chamados de corporativos conhecem bem a falta que faz artistas dessa estirpe, chamados líderes, em seus quadros. Muita gente despreparada, não pela formação acadêmica, mas pela ausência de diploma superior em sensibilidade diante das questões que envolvem relacionamentos humanos.

Simplesmente auxi­liam a perpetuar a gritaria, cerrando os ouvidos e todos os demais sentidos a tudo o que lhes possa parecer contrário.

Continuam os Narcisos de sempre, impressionados com a beleza e perfeição de suas imagens. Esquecem que no mundo, cada exemplar humano tem uma beleza própria, com inclinações para erros e acertos, bons e maus valores, entretanto, me­recedores da mesma atenção quando tentam colocar em debate seus pensamentos.

Trechos do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e profissional”.