Tempo, aquela coisa que
encurta quando temos prazo. Horas de preparo. Repassada dezenas de vezes cada
uma das etapas previstas no processo de preparo para que não houvesse falhas.
Mas parece praga de parteira, quanto maior a preocupação maior a possibilidade
de problemas.
Com uma hora de
antecedência já estava no salão. Verifica daqui, testa dali, avalia
luminosidade, melhor posicionamento, esquenta a garganta. Tudo pronto e
testado. A greve no setor de transporte quando muito iria ter como consequência
alguns retardatários, mas nada grave.
Repasse de todos os
assuntos que deveriam ser tratados. Vamos testar o som! O som pessoal!
Microfone nas mãos e o clássico “testando, testando, som, som”. Cadê o som?
Pouco mais de trinta minutos para o horário determinado. Pessoas já aguardando,
ansiosas tanto quanto o palestrante, imaginando o que veriam pela frente,
novidade ou o mesmo blá blá blá de sempre.
O microfone mudo. Quem
resolve o problema? Cadê o pessoal da manutenção? Simplesmente não havia o
pessoal da manutenção. Não restava outra alternativa senão eliminar o alto-falante
e utilizar de plenos pulmões para contornar o episódio. Confirmem os “slides”,
por favor. O projetor parou de funcionar. Esfriou ou sei lá, não havia recebido
o devido pagamento para funcionar normalmente.
Cruzes, cinco minutos!
Sem som, sem “Power point”. Qual era mesmo o assunto que iria tratar? Talvez
sair correndo, ou simular um princípio de mal-estar e suspender a apresentação,
seria uma saída. Mas não tinha jeito, era melhor abrir acesso ao salão, já que,
por convicção, tenho aversão a atrasos.
Todos sentados, algumas
poltronas vazias, os olhares para o palco. Entro com o microfone nas mãos. Até
havia me esquecido de sua inutilidade. Boa noite! Como todos responderam, um
fio de esperança despontou. Não acreditei e resolvi testar o dito cujo. E com
toda a força do ar, fazendo vibrar a garganta, quase berrando, dei um novo e
sonoro boa noite.
Todo mundo levou um
susto. O palestrante ficou louco? O som havia retornado, sem maiores
explicações. Talvez um fio mal conectado, sei lá. O fato é que voltou e tive
que improvisar: “todo mundo agora está atento?”. “Então vamos lá!”.
Peguei o controle remoto
do projetor e mirei em sua direção, apertando o botão “Power” na esperança de
um segundo milagre.
Nova improvisação:
“Vejam como o vício nos faz repetitivos. A apresentação de hoje não tem slides
e eu aqui, querendo ligar o projetor”. “Estamos aqui hoje, justamente para
isso: não deixar que a repetição nos faça incapazes de inovar”.
Olé! Engatei uma
primeira e fui embora. Acho que ninguém percebeu a tensão.
Trechos do livro “Pensar para sair do lugar –
Crescimento pessoal e profissional”
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