Impressiona a
indisposição das pessoas para pequenas gentilezas. Qual o custo de um “bom
dia”, de um sorriso na expressão, de uma delicadeza no trânsito, de um auxílio
a quem necessita? Enquanto corria, avaliava isso e, com exceção daqueles que já
se acostumaram com meu costumeiro “bom dia”, pouca gente sequer responde ao
cumprimento.
Há uma trava! Talvez
acreditando que ninguém dá um “bom dia”, desejando, simplesmente, que seja um
belo dia. Deve haver segundas intenções nisso, ou é alguém querendo perturbar o
sossego, ou ainda com algum interesse escuso tentando se aproximar, dentre as
muitas teorias conspiratórias.
Parece uma carga pesada
retribuir! Contribuir para uma melhoria nos relacionamentos humanos, nem
pensar. Cada um na sua e segue o trem da indiferença, que só para na estação da
autofagia, a estação dos devoradores de si mesmos.
Interessante é a
multiplicação dessa coisa malcriada. Nos condomínios pessoas, mesmo convivendo
tão próximos, incapazes de emitir um som que, ao menos, confirme que pertençam
à mesma espécie. Nas ruas, nem se fale, é quase uma aberração trocar duas
palavras com alguém. Vivemos invisíveis uns para com os outros.
Quando essa mania bate
na porta do mundo corporativo fica, ainda, mais intensa sua desfaçatez.
Desequilibra, fragiliza, tão intensamente quanto ser vítima de ações
discriminatórias. É chato conviver com pessoas desprovidas de respeito, mais
chato, é ter que agir de uma forma igual, também ser indiferente, para evitar
que autoestima abaixe para níveis alarmantes.
Apesar de ser um
mecanismo de defesa, não é a melhor tática a ser utilizada. Primeiro porque não
alterará a realidade e, em segundo lugar, perpetua o que está equivocado. Fora
isso, sofre quem tem essa sensibilidade; o mal-educado, nem se dá conta de sua
cretinice.
Existe uma forma simples
de se resolver essa questão; simples na ideia, mas difícil de implementar.
Basta criar coragem, suficiente, para chegar até o desafeto e questionar:
“Fulano, está acontecendo algum problema? Fiz algo que lhe desagradou, sem
perceber?”. Normalmente, vai causar impacto e a pessoa irá reagir negando a
existência de qualquer problema. Ela retornará com uma pergunta, depois da
negação: “Por quê?”. Responda rapidamente: “Por nada, acho que só foi uma
impressão.”.
Pronto! Bata em retirada e observe o
comportamento nos próximos dias. Deverá haver uma significativa melhora.
Aquela pulga atrás da orelha vai abrir os olhos e o cérebro daquele ser
esquisito. Essa é a atitude mais adequada. Caso não dê resultado, ainda assim
não abra a mão de seus princípios, afinal, “água mole em pedra dura tanto bate
até que fura”. Insista, não por ele, mas por sua crença naquilo que lhe é
saudável.
Trecho do livro "Pensar para sair do lugar"