domingo, 14 de fevereiro de 2021

Quase um sonho


Impressiona a indisposição das pessoas para pequenas gentilezas. Qual o custo de um “bom dia”, de um sorriso na expressão, de uma delicadeza no trânsito, de um auxílio a quem necessita? Enquanto corria, avaliava isso e, com exceção daqueles que já se acostumaram com meu costumeiro “bom dia”, pouca gente sequer res­ponde ao cumprimento.

Há uma trava! Talvez acreditando que ninguém dá um “bom dia”, desejando, simplesmente, que seja um belo dia. Deve haver segundas intenções nisso, ou é alguém querendo perturbar o sossego, ou ainda com algum interesse escuso ten­tando se aproximar, dentre as muitas teorias conspiratórias.

Parece uma carga pesada retribuir! Contribuir para uma melhoria nos relacio­namentos humanos, nem pensar. Cada um na sua e segue o trem da indiferença, que só para na estação da autofagia, a estação dos devoradores de si mesmos.

Interessante é a multiplicação dessa coisa malcriada. Nos condomínios pessoas, mesmo convivendo tão próximos, incapa­zes de emitir um som que, ao menos, confirme que pertençam à mesma espécie. Nas ruas, nem se fale, é quase uma aberração trocar duas palavras com alguém. Vivemos invisíveis uns para com os outros.

Quando essa mania bate na porta do mundo corporativo fica, ainda, mais in­tensa sua desfaçatez. Desequilibra, fragiliza, tão intensamente quanto ser vítima de ações discriminatórias. É chato conviver com pessoas desprovidas de respeito, mais chato, é ter que agir de uma forma igual, também ser indiferente, para evitar que autoestima abaixe para níveis alarmantes.

Apesar de ser um mecanismo de defesa, não é a melhor tática a ser utilizada. Primeiro porque não alterará a realidade e, em segundo lugar, perpetua o que está equivocado. Fora isso, sofre quem tem essa sensibilidade; o mal-educado, nem se dá conta de sua cretinice.

Existe uma forma simples de se resolver essa questão; simples na ideia, mas difícil de implementar. Basta criar coragem, suficiente, para chegar até o de­safeto e questionar: “Fulano, está acontecendo algum problema? Fiz algo que lhe desagradou, sem perceber?”. Normalmente, vai causar impacto e a pessoa irá rea­gir negando a existência de qualquer problema. Ela retornará com uma pergunta, depois da negação: “Por quê?”. Responda rapidamente: “Por nada, acho que só foi uma impressão.”.

Pronto! Bata em retirada e observe o comportamento nos próximos dias. De­verá haver uma significativa melhora. Aquela pulga atrás da orelha vai abrir os olhos e o cérebro daquele ser esquisito. Essa é a atitude mais adequada. Caso não dê resultado, ainda assim não abra a mão de seus princípios, afinal, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Insista, não por ele, mas por sua crença naquilo que lhe é saudável.

                                                                               Trecho do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Sensatez

 


O que aconteceria se todos tivessem o preparo intelectual para responder sobre qualquer tema, dos mais diversos assuntos?

Provavelmente, nada! As divergências, novas experiências, aprendizados, não existiriam. Seria o “ó do borogodó”, dada a desnecessidade de evoluir, pois tudo já estaria definido. Nada restaria para conversar ou ouvir. Provavelmente atrofiariam-se línguas e ouvidos.

É preciso compreender que para cada um foi reservado determinado talento. Anos de estudos levaram à formação de bons administradores, engenheiros, médicos, professores, psicólogos, terapeutas e tantos outros profissionais.

Além deles, também com estudos, observações, tentativas e erros, experiências, habilidades, competências indiscutíveis, surgiu outra gama de excelentes profissionais: marceneiros, costureiras, pedreiros, comerciantes, manicures, mecânicos, agricultores...

Picaretas sempre existiram, mas a seleção natural deu ou dará conta deles.

O mundo é uma grande diversidade, ou seria universidade? Cada um colabora com aquilo que entende em profundidade e domina a matéria, a tal ponto que, a cada instante, descobertas são apresentadas, inovações são disponibilizadas.

Somos “experts” em determinados assuntos, nem tanto para outros e, totalmente despreparados para muitos.

Ninguém se atreveria a ter a assessoria de um profissional específico, se não confiasse em sua capacidade, em seu preparo, na supremacia do serviço que oferece.

É preciso ter consciência, inclusive, para evitar cair na “roubada” de “arrotar” sabedoria e ter como consequência o arrependimento futuro, motivado pela soberba ao defender pontos de vistas onde você só é um curioso, e mais nada.

Cuidado ao opinar, ao levantar a voz para defender posições que, na sua essência, são apenas informações desconexas, ligadas com plataformas chamadas “interesses próprios”, “reflexos do meu espelho”, “terminais dos íntimos propósitos”.

 Limite-se a aprender, a consultar a fonte, a discernir sobre o que, de fato, é possível concluir. Em suas considerações, cite o profissional que estudou determinado assunto e o ofereceu para discussão, não cometa o desatino de assumir o que não lhe pertence, onde sua competência está longe de dominar; aquilo que você não vive no seu dia a dia.

Médico é médico, cientista é cientista, mídia é mídia, paciente é paciente. Nessa pandemia, da desinformação, você tem o direito de confiar ou duvidar de qualquer lado, criticar ou elogiar.

Pode ter milhões de razões que o façam seguir determinada corrente; siga-a livremente, até com a convicção dos novos conhecimentos adquiridos.

Só argumente, discuta com respeito, se informe cada vez mais, mas não perca de vista sua condição de leigo. Deixe para o tempo e para a história julgar quem está certo ou errado. Não provoque ainda mais confusão.

O nome disso é sensatez!

domingo, 31 de janeiro de 2021

Comemore

Quando você decidir que está na hora de dar um basta e necessita buscar algo além do que o cotidiano lhe oferece, preste atenção somente em duas palavrinhas: reflexão e planejamento.

Muitas pessoas acreditam que basta estalar os dedos e a realidade, magica­mente, será enquadrada em seus sonhos. Sonhar é fundamental, mas é preciso distinguir as várias etapas entre o desejo e a concretização. Melhor não se ilu­dir, para evitar a desilusão futura. São os sonhos que necessitam se enquadrar à realidade.

Conheço experiências negativas e positivas. Pessoas que abandonaram o mo­delo seguido e atingiram sucessos inimagináveis. Outras, porém, ansiosas em galgar novas posições, submeteram-se ao desgosto de enfrentar um retumbante fracasso. A diferença entre uma e outra? Reflexão e planejamento.

Refletir significa utilizar-se do intelecto para conhecer as variáveis existentes, os riscos envolvidos, evitar precipitações, fazer com que o fator emoção diminua de importância diante de uma decisão extrema. Pode não ser garantia absoluta de realização, mas diminui as chances de cabeçadas homéricas e doloridas.

Planejamento, colocar de forma visível os argumentos da reflexão. Quando, onde, como e, principalmente, as razões que sustentem a mudança desejada. Novamente o alerta, poderão ocorrer fatores inesperados que interrompam ou frustrem a finalização do processo, ainda assim, sua margem de segurança será bem maior do que, simplesmente, partir para uma aventura rumo ao desconhe­cido (deixe isso para a ficção, realidade exige consciência, confundi-las, poderá ser desastroso).

Diante do desconhecido, capacite-se! Não deixe seu emprego, seu negócio, por razões, meramente, emocionais. Faça um diagnóstico, sei que não é fácil, mas é possível. Sempre tem alguém que quer deixar seu emprego porque não suporta o comportamento de seu chefe. Se não gosta de trabalhar naquela empresa, muito bem, saia fora, porque o mal maior é permanecer infeliz, agora, ora bolas, o chefe não é seu emprego, é também um empregado. Existem argumentos e formas ra­cionais de lidar com situações dessa natureza e que podem amenizar e até mesmo eliminar esse tipo de inconveniência.

No negócio, a mesma coisa. Não é porque um concorrente entrou no mercado, disposto a abocanhar uma fatia para si, que o mundo acabou. Ao contrário, defina novas estratégias, inove, ouse, mostre seu potencial, invista no cliente, conquiste outros mercados, utilize novas ferramentas de comunicação. A mesma receita, só deixe seu negócio se não gosta do que faz, aí é persistir em algo que não trará resultado que satisfaça.

Portanto, reflexão e planejamento podem se estender a qualquer zona humana onde a decisão por mudanças seja o principal fator, só não pode permanecer na zona de conforto, aí é deixar a vida lhe levar e, só na música, é possível o sucesso.

                                                                                Trecho do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 24 de janeiro de 2021

O achismo conveniente

 


Vamos encarar a realidade: existe uma dose de ilusionismo no mundo corpo­rativo quando se trata de estabelecer as metas e definir parâmetros de desenvolvi­mento no longo prazo. Por mais acuradas que sejam as informações, estudos pro­fundos apresentando tendências, estatísticas, gráficos, análises, existe uma barreira intransponível, conhecida pelo codinome de imprecisão.

Como um adendo do mundo social, empresas carregam consigo a maldição da imprecisão. Tudo corria a mil maravilhas, mas o tomate alterou os índices inflacio­nários; a tendência era de crescimento de determinados setores, mas do outro lado do mundo alguém postou algo que ocasionou uma revolta religiosa cujo efeito foi elevar o barril de petróleo às alturas; respostas duras da natureza, às nossas desme­didas intervenções no equilíbrio ecológico, chegam a varrer do mapa, literalmente, empresas que se esmeravam em planejar o futuro.

Portanto, no frigir dos ovos, mesmo aventurando-se a cercar todas as possibi­lidades de intercorrências, é uma missão divina, não adaptada aos mortais e, assim sendo, dentro do padrão individual do achismo, ou mais para prestidigitação do que razão.

Antes que os arautos desses mirabolantes estudos me condenem a arder no fogo do inferno, apresso-me a elogiar o trabalho que realizam, porque ao se aven­turarem a definir ocorrências futuras sempre contribuem muito mais com o tempo presente, do que o tempo que avaliam. Incentivam o exercício da reflexão, seus apontamentos abrem novos horizontes, cenários são delineados, tornam atuais ocorrência futuristas, trazem novas informações, abrem novos campos de pesquisa e, principalmente, preparam os olhos empreendedores para as mudanças.

É essa a virtude de se aventurar no tempo vindouro, na realidade, uma tentati­va de antecipação desse futuro, de atender necessidades, querências, vencer limita­ções, encarar com ousadia o desconhecido, suprindo necessidades que ainda nem foram despertadas. Ao buscar superar a barreira do tempo, quem planeja quer se antecipar aos acontecimentos e quem paga por isso, quer tomar uma carona nessa iniciativa. Salve o achismo!

                                                                        Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 17 de janeiro de 2021

Duvide da dúvida

 


Dizem que se conselhos fossem bons, seriam cobrados! Não se assustem, não é o caso! Trata-se de situações que sempre ocorrem, mas muitas vezes, estamos distraídos e não damos a devida atenção:

 - Duvide de quem diz que não existe outra forma de realizar determinada tarefa! Sempre há um jeito de alterar o formato, mexer no andamento, acrescentar novos elementos, experimentar outras ideias.

- Duvide de quem chega e, sem nem conhecer, diz que tudo está errado e pre­cisa ser mudado! Não é, simplesmente, chegar e mudar. Tem que estudar, aprovei­tar o que funciona bem, propor melhorias naquilo que precisa de aprimoramento. Isso é gerenciar!

- Duvide de quem fala muito e faz pouco! Palavras sem ação é como querer riscar um palito de fósforo no ar, nada acontece. A chama não surge, o fogo não queima, a luz não ilumina.

- Duvide de quem gosta de viver só em pedestais! Ego inflado, sempre traz algo perturbador escondido nas entrelinhas, e quando esse “algo” se manifesta, sai de baixo, que o barulho fará estragos.

- Duvide dos “donos da verdade”! A “verdade” que propagam é sempre relativa e circunstancial. Visam interesses próprios e acolhem teorias, das mais absurdas, para justificar a própria permanência no centro das decisões.

- Duvide de suas dúvidas! Jamais deixe que dominem sua mente e façam de sua vida um enorme ponto de interrogação! O sucesso nunca esteve e jamais estará sob o domínio da ausência de respostas.

Esclarecer é preciso. Santa Clara, clareai!

                                                                                        Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

domingo, 10 de janeiro de 2021

Mobilidade não é só movimento

 


Ter mobilidade e estar preso em um cubículo, não é ter mobilidade, pode ter a capacidade de, mas efetivamente, não a tem. Portanto, mobilidade sem espaço, sem liberdade, não é mobilidade, é imobilidade.

Por certo você já ouviu a expressão chula, “não tira a bunda da cadeira”, numa referência aos pretensos líderes, que se contentam em acompanhar tudo, comodamente, instalados em suas poltronas, sem a experiência do real, sem o contato essencial com a pulsação do cotidiano, deter­minante no estabelecimento de diretrizes e de novas abordagens.

Muitos têm o espaço, porém, não sabem, não se interessam, ou simplesmente, não conseguem abrir a porta. Outros abrem a porta, vociferam alguns impropérios e a fecham rapidamente, e muitos abrem a porta, correm em desabalada carreira, e não param para admirar e desejar aquilo que pretendem conquistar. Desolados, retornam ao ponto inicial e novamente acomodam os respectivos traseiros em suas poltronas de couro.

Minha concepção admite dois tipos de mobilidade, uma restrita ao tempo e espaço, outra, à divagação, à abstração. Ambas necessárias, ambas complementares e não excludentes. Quando a porta se abre, é preciso sair, admirar a paisagem, calmamente observar e buscar o entendimento, assimilar a realidade, lambuzar-se dela e do conhecimento que propicia. Só assim, será possível acionar a mobilidade do pensamento, que permite nos meandros infinitos das conexões cerebrais, incre­mentar, inovar, na busca pelas melhorias.

Portanto, é preciso cuidado ao afirmar que alguém, num cubículo, está imobi­lizado, sem produtividade, prisioneiro do medo de enfrentar a realidade. Pode ser que esteja utilizando a outra mobilidade, a do raciocínio. E essa é, extremamente, libertadora, desde que validada pela performance anterior, da porta aberta ao es­paço do conhecimento, além das fronteiras e do alcance das poltronas giratórias.

Caso contrário, a criatura faz parte efetiva daquele séquito de admiradores do “não me comprometa”, por nada tiro os fundilhos desta cadeira, a não ser, é claro, quando solicitado para alguma reuniãozinha na sala da gerência ou diretoria, ou, muito mais confortável, no encerramento do expediente. “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, é o refrão desse comportamento retrógrado e estuporado.

Texto do livro "Pensar para sair do lugar"

sábado, 2 de janeiro de 2021

Dinâmica da Inteligência

 

Provocação é uma bela palavra para ser incorporada ao nosso dia a dia. Devemos nos sentir provocados a mudar e mudar para melhor, enriquecendo a vida a cada novo desafio.

Se os avanços tecnológicos já não são capazes de nos causar perplexidade, em função da velocidade com que são apresentados, que tal causar perplexidade adotan­do novas posturas diante das provocações?

Utilizando a dinâmica da inteligência podemos verificar que um grande pro­fissional não é aquele que está ocupando lugar de destaque nos gráficos da empre­sa. Isso também é importante, mas o essencial é o que virá pela frente, contando sua história.

Atitude é a palavra-chave. O grande profissional não se curva diante da adversi­dade, não se encolhe diante do problema, não diminui diante da incerteza, não vacila diante da concorrência. Não deixa de sonhar, crescer, evoluir. Vivencia a ética e a compartilha com todos: colegas, clientes, adversários.

Essa é a razão de não conseguir se utilizar da dinâmica da inteligência sem um pretexto forte. A apatia de muitos está diretamente conectada à ausência de razões. É preciso ter por quem e por que lutar, com entusiasmo. É preciso cumprir um pro­cesso de satisfação, cada vez mais amplo e envolvente.

Um ser humano insatisfeito consigo mesmo não encontrará energia para de­senvolver ideias, criar e muito menos incentivar o desenvolvimento de outrem que, na essência, é o que mais nos traz satisfação. A insatisfação é a antítese do potencial expansivo do cérebro, onde nada se renova, onde se estabelece o inócuo, o vazio, o vácuo, a ausência de inspiração.

Optar por seguir um caminho ou outro é uma escolha individual, intransferível, mas é sempre bom avaliar, pesar até que ponto chega nossas pretensões diante do que virá. Poderemos nos tornar protagonistas de grandes mudanças ou renunciar a tudo isso, em nome da eterna mediocridade.

                                                                                          Texto do livro "Pensar para sair do lugar"