Culpa do Word
Na era da
informação eletrônica, soa antiquado ter-se utilizado da máquina de escrever,
como instrumento de trabalho. Quase peça de museu, não fosse a teimosia de
alguns ou a necessidade de outros que, pela ausência de recursos financeiros para
adquirir computadores e impressoras, pela necessidade de se ter um instrumento de
salvação na ausência da energia elétrica ou, ainda, pelo simples fato de não
querer se modernizar, continuam a utilizar-se das Facit, Olivetti, Remington, que
faziam a alegria dos datilógrafos de plantão.
Realmente,
perderam o glamour e o lugar nas mesas de trabalho. Afinal, com correção
automática dos textos, fazer e desfazer de palavras, linhas, como bem se entender,
copiar e colar, recortar e alterar da forma como se queira, utilizar a fonte que
se deseja, de fato, não há mais espaço para as valorosas máquinas.
Porém, há algo
que o charme desse período tinha de sobra e, agora, tornou-se um quesito de
maior raridade: o domínio da escrita, o conhecimento da língua. O bom
datilógrafo, além da velocidade que imprimia em suas teclas, era um conhecedor
da linguagem formal. Primeiro porque seus textos não poderiam suportar uma
sequência de erros. O papel teria que ser arrancado do cilindro e um outro
colocado em posição para ser, novamente, datilografado. E, em segundo lugar,
porque estava sendo avaliado pela forma como redigia e argumentava em seus
textos.
Então, o
mecanismo, por não existir meios de correção que não deixassem marcas (o que
existiam eram bastante arcaicos, como borracha, corretor de papel ou
“branquinhos”), nem auxílio para os erros de português, fazia com que os datilógrafos
de gabarito procurassem o conhecimento, o dicionário, a expansão de suas
habilidades com a língua pátria. Normalmente, bons funcionários em repartições
públicas e privadas também eram bons datilógrafos.
Faça um teste em
sua empresa. Peça uma redação aos funcionários de qualquer nível, porém, sem o
auxilio da eletrônica, ou seja, utilizando somente papel e caneta. Ah, também
proíba a utilização de abreviaturas inexistentes. Pode deixar um dicionário do
lado para consulta. Vai ser um Deus nos acuda. Além da maioria de texto com
letra inelegível, vamos ter gente que perdeu a habilidade de escrever porque
virou dependente do teclado, pessoas que nem imaginam o significado de algumas
palavras e muito menos as regras de acentuação e mais, nem sabem consultar um
dicionário.
Vai causar
constrangimento e muita dor de barriga!
Acredito que o
hábito de leitura ameniza bem essa situação, porém, cada um precisa avaliar se
o que aprendeu nos bancos escolares é capaz de estar presente em seus textos,
e-mails, memorandos, relatórios. Muito mais do que isso, é necessário, talvez
até antes de cursar línguas estrangeiras, reciclar o conhecimento de sua
própria língua. Nada pior do que encontrar um “seje”, um “menas” na linha de um
documento, mas muito pior é a indagação: “mas não está certo?”, candidamente,
pronunciado pelo autor ou autora da façanha.
A culpa não é
dele ou dela, é do Word!
Texto do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e
profissional”
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