quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Culpa do Word

 

Culpa do Word

Na era da informação eletrônica, soa antiquado ter-se utilizado da máquina de escrever, como instrumento de trabalho. Quase peça de museu, não fosse a teimosia de alguns ou a necessidade de outros que, pela ausência de recursos financeiros para adquirir computadores e impressoras, pela necessidade de se ter um instrumento de salvação na ausência da energia elétrica ou, ainda, pelo simples fato de não querer se modernizar, continuam a utilizar-se das Facit, Olivetti, Remington, que faziam a alegria dos datilógrafos de plantão.

Realmente, perderam o glamour e o lugar nas mesas de trabalho. Afinal, com correção automática dos textos, fazer e desfazer de palavras, linhas, como bem se entender, copiar e colar, recortar e alterar da forma como se queira, utilizar a fonte que se deseja, de fato, não há mais espaço para as valorosas máquinas.

Porém, há algo que o charme desse período tinha de sobra e, agora, tornou-se um quesito de maior raridade: o domínio da escrita, o conhecimento da língua. O bom datilógrafo, além da velocidade que imprimia em suas teclas, era um conhe­cedor da linguagem formal. Primeiro porque seus textos não poderiam suportar uma sequência de erros. O papel teria que ser arrancado do cilindro e um outro colocado em posição para ser, novamente, datilografado. E, em segundo lugar, por­que estava sendo avaliado pela forma como redigia e argumentava em seus textos.

Então, o mecanismo, por não existir meios de correção que não deixassem marcas (o que existiam eram bastante arcaicos, como borracha, corretor de papel ou “branquinhos”), nem auxílio para os erros de português, fazia com que os dati­lógrafos de gabarito procurassem o conhecimento, o dicionário, a expansão de suas habilidades com a língua pátria. Normalmente, bons funcionários em repartições públicas e privadas também eram bons datilógrafos.

Faça um teste em sua empresa. Peça uma redação aos funcionários de qual­quer nível, porém, sem o auxilio da eletrônica, ou seja, utilizando somente papel e caneta. Ah, também proíba a utilização de abreviaturas inexistentes. Pode deixar um dicionário do lado para consulta. Vai ser um Deus nos acuda. Além da maioria de texto com letra inelegível, vamos ter gente que perdeu a habilidade de escrever porque virou dependente do teclado, pessoas que nem imaginam o significado de algumas palavras e muito menos as regras de acentuação e mais, nem sabem consultar um dicionário.

Vai causar constrangimento e muita dor de barriga!

Acredito que o hábito de leitura ameniza bem essa situação, porém, cada um precisa avaliar se o que aprendeu nos bancos escolares é capaz de estar presente em seus textos, e-mails, memorandos, relatórios. Muito mais do que isso, é necessá­rio, talvez até antes de cursar línguas estrangeiras, reciclar o conhecimento de sua própria língua. Nada pior do que encontrar um “seje”, um “menas” na linha de um documento, mas muito pior é a indagação: “mas não está certo?”, candidamente, pronunciado pelo autor ou autora da façanha.

A culpa não é dele ou dela, é do Word!

Texto do livro “Pensar para sair do lugar – Crescimento pessoal e profissional”




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