sábado, 18 de abril de 2020

Parábola



Encanta-me a parábola dos trabalhadores da vinha. Ao mesmo tempo em que serve ao propósito de rever conceitos, refletir a respeito do que é justiça, traz também uma lição aos preocupados em comparações, pesos e medidas. Simplesmente coloca o dedo na ferida dos comportamentos adquiridos, que rejeitam visualizar sob outra condição, aquilo que se consagra como certo ou errado.
O proprietário de uma vinha vai atrás de trabalhadores e encontra diversos homens desocupados. Logo cedinho contrata vários deles, ao custo de um denário ao dia e os envia para a lavoura. Ao longo desse mesmo dia, e pelo mesmo valor, contrata outros operários. Ao final do período, enfileira todos os homens, em ordem crescente de horas trabalhadas, e paga a cada um o combinado.
Os que mais trabalharam se revoltam, protestam, acham injusto ganhar o mesmo de quem trabalhou poucas horas. A resposta do proprietário, informando que foi justo, pois cumpriu exatamente aquilo que combinara acrescentando, ainda, que a decisão de pagar a todos a mesma quantia era um direito seu porque eram seus os recursos, não convence e os empregados revoltados são expulsos de suas terras.
Sob a ótica humana, ao ver um companheiro recebendo um denário trabalhando bem menos, libera-se a expectativa da possibilidade de ser melhor remunerado. A pessoa já se apossa daquele valor imaginário, conta com ele, faz planos. A decepção propicia a revolta, o distanciamento e a não aceitação da regra combinada. Quer-se a transgressão, há uma sensação de exploração no ar que necessita ser dissipada, criando o cenário para o confronto.
O combinado, perfeito, justo e certo, é objeto de contestação indevida. É difícil aceitar que o patrão foi gentil com todos os trabalhadores, simplesmente, ao tê-los contratado. Mais difícil ainda aceitar a sua generosidade, pois o prejuízo foi seu, quando pagou mais por um serviço que trouxe resultados menores. E, mais complicado, absorver a ideia de que ele faz o que quiser com seus recursos, é quase uma ofensa.
Portanto, antes de se sentir injustiçado, utilize seu potencial reflexivo para eliminar os fatores que não existem ou que foram criados por sua imaginação. Cuide de sua proposta, das condições acordadas, das tarefas que deverão ser executadas, do tempo disponível para isso. Apesar da distância que separa os desígnios divinos dos nossos, é possível uma leitura nova de antigos paradigmas. Isso também é inovação!
Texto do livro "Pensar para sair do lugar - crescimento pessoal e profissional"

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