domingo, 6 de agosto de 2023

Bela travessia!

 


Bela travessia!

Um velho conhecido, que nos deixou há alguns meses, esteve comigo na Nossa Caixa, hoje Banco do Brasil. Dividíamos o quarto de hotel na Avenida Rio Branco, em São Paulo.

Foi um grande colega e, embora  trabalhássemos em setores díspares, ele, na Auditoria e eu, em Sistemas e Métodos, tínhamos, bastante em comum: o prazer de ver bem feito o que nos propúnhamos a fazer e tratar, com extrema responsabilidade, aquilo que nos era atribuído.

Éramos funcionários em início de carreira, todavia, impressionante como as ideias convergiam: condenávamos o uso político daquela instituição financeira e a atitude de pouco caso daqueles que, não concursados, simplesmente, aproveitavam as substituições de governo e locupletavam-se.

Tempo de crescimento, ações produtivas e conquistas espetaculares. Existiam os inimigos externos, aqueles oriundos dos partidos que assumiam o poder, desinteressados no sucesso da empresa, estavam preocupados, unicamente, em obter benefícios próprios. Mas havia aqueles que somavam.

Os funcionários temidos eram os inimigos internos, fileiras de funcionários concursados, que se contentavam em receber os salários mensalmente e, para esses, tudo poderia acabar em “barranco”. Havia os mais complicados, aqueles que tinham verdadeira obsessão pelo poder.

Quanta irritação com o desrespeito! Quantas lutas por melhorias!  Quantas defesas por aqueles que sofriam os impactos desgastantes daquelas figuras manipuladoras, a ponto de inviabilizar mudanças, forçar remanejamentos e estabelecer o reinado do “mando”.

A estratégia recorrente: “dedurar” quando se viam ameaçados, mesmo sem razão (às favas, a razão); sempre havia algo para impressionar ouvidos alheios, temerosos de ataques dos políticos adversários “de plantão”. Tornavam-se temidos, jamais respeitados.

Trajetórias distintas; mas, em longas conversas, o compromisso pelos códigos morais selou a necessidade de atuação honrada, ainda que riscos estivessem envolvidos. Ele seguiu carreira até a aposentadoria. Eu, durante uma dessas batalhas, fui demitido, no entanto saí vitorioso.

Vitórias não significam ausência de problemas e, sim, enfrentamento deles, ou melhor, o que fazemos diante daquilo que acreditamos. Após o susto inicial, um concursado demitido sem justa causa, compreendi que minha missão havia sido cumprida e que outras instituições precisavam daquilo que eu poderia oferecer.

Tenho certeza de que meu amigo, do outro lado da vida, com seu modo nervoso na salvaguarda dos seus pontos de vista, adquiriu bagagem suficiente para um derradeiro “valeu a pena”.

É isso o que importa: descansar quando o fim abre a porta da eternidade. Luta pela justiça, pela ética e pelo respeito é o que alimenta essa travessia.

Texto do livro "Pensar para sair do lugar - vertentes da vida"





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