Bela travessia!
Um velho conhecido, que nos deixou há alguns
meses, esteve comigo na Nossa Caixa, hoje Banco do Brasil. Dividíamos o quarto
de hotel na Avenida Rio Branco, em São Paulo.
Foi um grande colega e, embora trabalhássemos em setores díspares, ele, na
Auditoria e eu, em Sistemas e Métodos, tínhamos, bastante em comum: o prazer de
ver bem feito o que nos propúnhamos a fazer e tratar, com extrema responsabilidade,
aquilo que nos era atribuído.
Éramos funcionários em início de carreira, todavia,
impressionante como as ideias convergiam: condenávamos o uso político daquela
instituição financeira e a atitude de pouco caso daqueles que, não concursados,
simplesmente, aproveitavam as substituições de governo e locupletavam-se.
Tempo de crescimento, ações produtivas e
conquistas espetaculares. Existiam os inimigos externos, aqueles oriundos dos
partidos que assumiam o poder, desinteressados no sucesso da empresa, estavam
preocupados, unicamente, em obter benefícios próprios. Mas havia aqueles que
somavam.
Os funcionários temidos eram os inimigos
internos, fileiras de funcionários concursados, que se contentavam em receber
os salários mensalmente e, para esses, tudo poderia acabar em “barranco”. Havia
os mais complicados, aqueles que tinham verdadeira obsessão pelo poder.
Quanta irritação com o desrespeito! Quantas
lutas por melhorias! Quantas defesas por
aqueles que sofriam os impactos desgastantes daquelas figuras manipuladoras, a
ponto de inviabilizar mudanças, forçar remanejamentos e estabelecer o reinado
do “mando”.
A estratégia recorrente: “dedurar” quando se
viam ameaçados, mesmo sem razão (às favas, a razão); sempre havia algo para
impressionar ouvidos alheios, temerosos de ataques dos políticos adversários “de
plantão”. Tornavam-se temidos, jamais respeitados.
Trajetórias distintas; mas, em longas conversas,
o compromisso pelos códigos morais selou a necessidade de atuação honrada,
ainda que riscos estivessem envolvidos. Ele seguiu carreira até a
aposentadoria. Eu, durante uma dessas batalhas, fui demitido, no entanto saí
vitorioso.
Vitórias não significam ausência de problemas e,
sim, enfrentamento deles, ou melhor, o que fazemos diante daquilo que acreditamos.
Após o susto inicial, um concursado demitido sem justa causa, compreendi que
minha missão havia sido cumprida e que outras instituições precisavam daquilo
que eu poderia oferecer.
Tenho certeza de que meu amigo, do outro lado da
vida, com seu modo nervoso na salvaguarda dos seus pontos de vista, adquiriu
bagagem suficiente para um derradeiro “valeu a pena”.
Texto do livro "Pensar para sair do lugar - vertentes da vida"
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