quarta-feira, 5 de abril de 2023

Colher invertida

 


Quando algo não vai bem ou não sai como gostaríamos que saísse, a sensação é do estopim em chamas que, rapidamente, encurta a distância que o separa do ponto de explosão. Isso se assemelha àqueles desenhos animados, quando o personagem pretende chamuscar seu inimigo e acaba sendo, ele mesmo, chamuscado.

A amargura, condensada naquele aperto do peito, parece infinita. Exala, pelos poros do corpo, o indelicado e grosseiro perfume do fracasso, um sentido de desamparo, de solidão, sem precedentes, que deixam feridas abertas, de difícil cicatrização.

A vítima costuma tomar doses de xarope, utilizando a face invertida da colher. Ainda que o conteúdo seja, inteiramente, despejado sobre ela, a cura deixará de acontecer; a colher não retém o necessário para iniciá-la.

Interessante notar que os dois lados são abaulados; contudo, só um cumpre sua missão.

É assim também com os supostos fracassos: indisponibiliza que a experiência, por ser amarga, proporcione a porção necessária ao nosso interior, alimentando os fatores de aprendizagem, auxiliando na reflexão do ocorrido, desenvolvendo mecanismos capazes de evitar a repetição do idêntico erro no futuro.

Há certa conivência, pelo medo dos dissabores, em voltar à face externa da colher, imediatamente, quando a insatisfação toma o lugar da coragem.

Deixa uma enorme lacuna, a ausência da atitude correta, na busca do triunfo. É percurso seguro para prolongar o pesadelo, permitir que o desagradável perdure além do tempo que deveria ficar disponível.

Assume o compromisso de digerir o necessário, em quaisquer circunstâncias, inclusive naquelas que retratem péssimos momentos.

Retirar dos tropeços a capacidade da cura é, talvez, a melhor oportunidade que a vida está presenteando para que você abra os olhos, conquiste seu espaço, atinja seus objetivos e torne-se uma pessoa melhor, menos rígida e mais feliz.

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