domingo, 1 de agosto de 2021

Muleta

 

Fora a eficácia estrutural, que pessoas privadas da capacidade de locomoção, parcial ou total, desfrutam do seu uso, muletas não são eficazes como opção de vida.

Ser “muleta” para alguém, ou permitir fazer do outro, “muleta”, são faces da mesma moeda: a incapacidade de aceitar a liberdade de alguém, ou da insegurança para seguir em frente pelos próprios méritos.

Quantas crianças poderiam ser poupadas dos sofrimentos psicológicos causados pelo excesso de proteção dos seus responsáveis? Quantas mais poderiam desfrutar de melhor equilíbrio emocional, se não recebessem presentes, quando as birras se escancaram, em nome da paz dos educadores?

Pais “muletas” criam filhos propensos a ser “muletas”, pelo exemplo. O que aguardar na fase adulta?

Certas coisas não deveriam ser objetos de barganha. Uma delas, com certeza, é a promoção do amadurecimento, capaz de se converter em plenitude, independência, segurança; ressonâncias para uma vida toda.

Apavora-me a ausência de percepção do quanto é prejudicial a insistência no papel de “muleta”.

Expressões como “coitadinho”, “frágil”, “incapaz”, tentam justificar, mas não convencem, apenas acentuam que a possibilidade de assumir a condução dos passos entrou em paralisia funcional, atrofiou, tirou de cena a capacidade de superação.

Uma muleta pode ajudar a andar, mas também pode criar problema para as axilas. Melhor não ser “muleta” para ninguém e andar com as próprias pernas.



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