Fora a eficácia estrutural, que pessoas privadas da capacidade de
locomoção, parcial ou total, desfrutam do seu uso, muletas não são eficazes
como opção de vida.
Ser “muleta” para alguém, ou permitir fazer do outro, “muleta”,
são faces da mesma moeda: a incapacidade de aceitar a liberdade de alguém, ou
da insegurança para seguir em frente pelos próprios méritos.
Quantas crianças poderiam ser poupadas dos sofrimentos
psicológicos causados pelo excesso de proteção dos seus responsáveis? Quantas
mais poderiam desfrutar de melhor equilíbrio emocional, se não recebessem
presentes, quando as birras se escancaram, em nome da paz dos educadores?
Pais “muletas” criam filhos propensos a ser “muletas”, pelo
exemplo. O que aguardar na fase adulta?
Certas coisas não deveriam ser objetos de barganha. Uma delas, com
certeza, é a promoção do amadurecimento, capaz de se converter em plenitude,
independência, segurança; ressonâncias para uma vida toda.
Apavora-me a ausência de percepção do quanto é prejudicial a insistência
no papel de “muleta”.
Expressões como “coitadinho”, “frágil”, “incapaz”, tentam
justificar, mas não convencem, apenas acentuam que a possibilidade de assumir a
condução dos passos entrou em paralisia funcional, atrofiou, tirou de cena a
capacidade de superação.
Uma muleta pode ajudar a andar, mas também pode criar problema
para as axilas. Melhor não ser “muleta” para ninguém e andar com as próprias
pernas.
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